São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

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ANTÔNIO GOIS

Samba do moreno doido

RIO DE JANEIRO - Na transmissão de rádio de um jogo da Copa América no domingo passado, o repórter, ao se referir a um jogador de nome Rincón, explicou que não era o mesmo que jogou no Brasil pois "aquele era moreno".
De imediato, o locutor corrigiu. Rincón -colombiano com passagens por Palmeiras e Corinthians- é negro, não moreno. Temendo soar preconceituoso, o repórter retruca: "É você quem está dizendo".
O caso é anedótico, mas exemplar da dificuldade que temos em lidar com o tema.
Estudo divulgado na sexta pelo IBGE mostra que a percepção que os brasileiros têm de si nem sempre bate com a avaliação dos outros.
Essa discrepância é gritante especialmente quando o entrevistado se diz moreno. Aos olhos dos entrevistadores, esses mesmos morenos seriam pardos (40%) ou brancos (26%). As respostas só combinam em 22% dos casos.
Nas pesquisas do IBGE, tradicionalmente, é o próprio entrevistado quem declara sua cor ou raça a partir de cinco opções (preto, pardo, branco, amarelo e indígena).
O estudo em questão destoa porque foi feito justamente para embasar mudanças.
Num contexto em que universidades adotam cada vez mais políticas para beneficiar grupos raciais normalmente excluídos do ensino superior, essa discussão torna-se ainda mais relevante.
Fica mais uma vez evidente, por exemplo, o absurdo que é a UnB exigir que candidatos à cota racial sejam entrevistados por uma banca para provar sua declaração.
Mais sensatas são a Uerj e outras 35 universidades. Se há o receio de fraude na identificação racial, melhor é agregar outros critérios, como exigir comprovação de pobreza ou frequência à escola pública.
Dessa forma, garante-se que a política beneficiará quem precisa, sem constranger candidatos à inquisição de um tribunal racial.


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