São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011 |
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
SÉRGIO DÁVILA Campeão de audiência Nunca se leu tanto jornal no Brasil. É o que sugere levantamento do Instituto Verificador de Circulação, que tem entre seus afiliados os principais diários do país. Segundo ele, a circulação média foi de 4,4 milhões de exemplares por dia no primeiro semestre de 2011. O número é recorde dos últimos 50 anos, quando teve início a série do IVC. Incluindo jornais não afiliados, o total salta para 8,4 milhões de exemplares diários, de acordo com estimativa de 2010 da Associação Nacional de Jornais (ANJ). Mas o volume de leitores certamente é maior. Se entre três e cinco pessoas leem um exemplar de jornal, como calcula o mercado publicitário, estamos falando de 25 milhões a 42 milhões de leitores. A cifra bate com levantamento feito pelo Ibope Media - TGI entre agosto e janeiro últimos, que chegou a um total de 24 milhões de brasileiros lendo jornal diariamente. Num universo de 157 milhões de alfabetizados, não é pouca coisa. No mínimo, um em seis brasileiros aptos a ler folheia um jornal. De papel, sem contar os milhões mais que frequentam os sites desses mesmos títulos. Segundo blague atribuída a um professor de economia norte-americano, estatísticas são como biquíni: o que revelam é sugestivo, mas o que escondem é fundamental. O modelo de negócio da mídia dita "tradicional" está em discussão no mundo todo e precisa ser repensado. Ainda assim, façamos um exercício. Para o Ibope, um ponto de audiência no que chama de Painel Nacional de Televisão -as 14 praças aferidas regularmente pelo instituto no país- equivale a 577 mil indivíduos. Na comparação (minha, não do Ibope), juntos, os leitores de jornal no Brasil equivaleriam à audiência nacional de um programa de TV com, no mínimo, 43 pontos. Seria o campeão de audiência entre todas as atrações no ar hoje em dia. Os números contrariam uma visão alarmista, propagada não sem certo prazer masoquista pelos próprios jornalistas, de que o fim (do papel? do jornalismo independente? do mundo?) está próximo. Não está, e os fatos recentes no Reino Unido comprovam isso. Como sabem os milhões que leem jornal, a News Corp., de Rupert Murdoch, está envolvida num escândalo sobre escutas telefônicas que já levou ao fechamento de um tabloide sensacionalista britânico e custou ao menos US$ 1 bilhão ao empresário de mídia. Os métodos criminosos usados por jornalistas a soldo dele para obter notícias evidenciam o que a imprensa pode ter de pior, é certo. Mas foram revelados sem impedimento nem censura por dois jornais sérios -"Guardian" e "New York Times"-, que fizeram jornalismo de verdade. É esse mecanismo de autodepuração, de autorretificação que mantém os jornais vivos e faz da liberdade de imprensa um bem vital. SÉRGIO DÁVILA é editor-executivo da Folha. Texto Anterior: Rio de Janeiro - Antônio Gois: Samba do moreno doido Próximo Texto: TENDÊNCIAS/DEBATES Ban Ki-Moon: Fome na Somália Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |