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FRATURAS EXPOSTAS
Não tem sido por falta de estatísticas, nas últimas décadas, que o país
teria deixado de perceber a dimensão
de suas iniquidades sociais, se é que
eram necessários números para perceber algo que é tão lamentavelmente
típico da paisagem brasileira. Mas,
neste mês de julho, houve um bombardeio contínuo de relatórios de organismos internacionais a respeito
da desigualdade social, das carências
em saúde e educação no Brasil.
O primeiro balanço amargo do período veio do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento Humano, que reclassificou o país no
ranking da qualidade de vida.
O indicador sofreu correção metodológica. Antes atribuía peso demasiado à renda média de um país no
cálculo desse número-síntese da situação social de cada nação, em detrimento de índices de saúde e educação. Como o Brasil é injusto também
nessas áreas, não basta renda média
até considerável para colocá-lo em
boa posição na lista do bem-estar.
Em seguida, o Fundo das Nações
Unidas para a Infância registrou que
o país não deve cumprir dez de 19
metas de melhoria social estipuladas
em 1990. O pior resultado brasileiro
foi justamente em mortalidade materno-infantil e desnutrição, indícios
tanto de desigualdade de renda como
de falta de acesso da população mais
pobre a serviços básicos de saúde.
Agora mais um estudo do Unicef,
embora menos angustiante que os
demais, mostra que a situação social
da infância no Brasil é semelhante à
de países mais pobres e conturbados
como o Paraguai. Cerca de uma em
cada quatro crianças brasileiras nasce em famílias que vivem com pouco
mais do que R$ 2 por dia (isso mesmo, dois reais); uma em cinco terá
pais analfabetos, diz o Unicef.
Ainda pior, os benefícios sociais
decorrentes da estabilização da economia, especialmente no que diz respeito à redução da fome, que haviam
sido significativos até 1997, vêm desaparecendo desde então.
Mas, em vez de projeto sério e estruturado para lidar com problema
técnica e politicamente tão complexo, a sensação de ainda mais profundo horror diante desse cenário é manipulada e alimenta populismo dos
mais simplórios. Que a opinião pública registre com asco o nome daqueles que, jamais compromissados
com o combate à pobreza, pretendem lustrar sua carreira e ambições
políticas com oportunismo social.
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