São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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MEGAERROS

Voltam ao cenário econômico brasileiro quase todos os ingredientes do modelo de ajuste que condenou o país a praticamente duas décadas perdidas, a de 80 e a de 90.
Sem financiamento, o país não tem opção, e a economia se desacelera, fazendo o ajuste necessário para honrar os compromissos externos.
A geração de "megassuperávits" é fruto dessa lógica. O governo anunciou que fará um saldo exportador de pelo menos US$ 7 bilhões em 2002.
Não há mágica nem mérito maior nessa trajetória. O saldo comercial aumenta não preponderantemente porque o país se torne mais competitivo, mas principalmente porque a perda de vigor na economia é o ajuste doloroso que provoca uma forte queda nas importações.
A façanha, que impõe sacrifícios a empresas e trabalhadores, não é pouca. Afinal, a capacidade de gerar um fluxo de dólares no comércio é uma das condições para acalmar os credores que esperam receber seus dólares como retorno de investimentos e empréstimos.
O corte do crédito externo, no entanto, leva o país a fazer a "lição de casa", impondo austeridade a empresas, consumidores e governos.
Diante da falta de linhas de financiamento, quem pode liquida ao menos parte de seus compromissos. A liquidação de contratos em dólar pressiona o câmbio agora, mas no futuro diminuem esses encargos.
Em tese, portanto, a contração da economia, combinada à falta de crédito externo, obriga a economia do Brasil a viver com os próprios meios, comportamento que, no médio prazo, tenderia, aos poucos, a reconduzir o país à normalidade.
Com menos dívidas para pagar e se mostrando capaz de captar dólares pelo comércio exterior, o Brasil voltaria a ser confiável e supostamente poderia endividar-se novamente, mas de modo sustentável.
Na prática, os ciclos de endividamento se sucedem e a lição não é aprendida por sucessivos governos.
Os megassuperávits resultam de megaerros de política econômica. E as seguidas crises cambiais adiam o futuro promissor tão esperado pela economia brasileira.


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