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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

A energia e o equilíbrio mundial

Os historiadores devem estar estupefatos de ver que, depois de tanto esforço em favor da paz -com o fim da Guerra Fria, o reatamento das relações entre os Estados Unidos e a ex-União Soviética-, o mundo abriu as cortinas do século 21 com a mais terrível escalada de atos de terrorismo, que destroem vidas, princípios e economias.
Quando o terror chega perto de nós -como foi o caso do covarde assassinato do nosso irmão, o embaixador Sérgio Vieira de Mello, e dos seus colegas que estavam trabalhando no edifício da ONU em Bagdá -, sentimos mais fundo a gravidade da insegurança mundial.
Escrevi várias vezes nesta coluna sobre os propulsores que me pareciam mais prováveis da Guerra do Iraque. A questão energética sempre esteve na frente. O mundo enfrenta uma séria crise nesse campo, sendo que os Estados Unidos, em particular, entram na faixa crítica. Infelizmente, o que previ naqueles artigos acabou acontecendo antes do esperado. O "megapagão" do último fim de semana é um pequeno sinal da gravidade da crise energética americana. Nos diagnósticos sobre o determinante do problema, não faltam especulações políticas e exploração eleitoral.
Penso, porém, que a causa é mais simples. O país apagou porque faltou energia, só isso. O blecaute decorreu da queda do sistema, em razão de sobrecarga. Os EUA têm apenas 5% da população mundial e consomem um terço da energia do planeta! Suas reservas de petróleo (2% do total mundial) caem dia a dia, enquanto o consumo aumenta. A situação é crítica.
A maioria das nações não está aguentando manter a infra-estrutura, a produção e as demais atividades econômicas e humanas com a energia que tem. O petróleo ainda representa 40% da energia utilizada no mundo. Até 2020, o consumo saltará dos atuais 85 milhões de barris/dia para 110 milhões/dia, ou seja, de 31 bilhões/ano para 40 bilhões de barris/ano, lembrando-se que o mundo subsidia os combustíveis fósseis com US$ 150 bilhões por ano.
Até 2020, o mundo terá devorado 800 bilhões de barris, sobrando outros 800 bilhões. Esse cálculo se baseia em um crescimento do PIB da ordem de 2% ao ano. Se o mundo passar a crescer 3% -o que é desejável-, as reservas darão para chegar apenas até 2030.
Trata-se de uma situação aflitiva. Os países que dependem do petróleo acusam os países árabes, onde há a maior concentração dele, de possuírem "armas de destruição em massa". E têm mesmo -é o próprio petróleo. Se eles deixarem de produzir o que produzem, podem provocar o extermínio em massa dos que dependem do ouro negro, o que provoca mais reações.
A história do mundo parece marcada. A escassez de energia será o combustível dos próximos conflitos e da escalada do terrorismo contra os que trabalham pela paz, como o nosso querido embaixador Vieira de Mello. Ele foi vítima da guerra energética, como milhões de outras. O encontro de fontes alternativas de energia é, literalmente, uma questão da mais alta importância e de enorme dificuldade.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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