São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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CRISE À VISTA

A nova Constituição proposta para o Iraque já embute a próxima crise, que poderá resultar até mesmo na divisão do país.
A poucos minutos do fim do prazo estipulado, a comissão conseguiu entregar à Assembléia Nacional uma proposta de texto. O problema é que não há consenso político em torno dela. Os grupos mais poderosos lograram inscrever seus principais pleitos no projeto, mas o fizeram praticamente alijando os sunitas -facção que corresponde a cerca de 20% da população iraquiana- do processo constitucional.
De fato, os curdos -grupo não-árabe que habita o norte e corresponde a outros 20% do país- conseguiram aprovar a idéia de uma federação fraca, que lhes concede bastante autonomia. Os xiitas -60% da população-, por seu turno, garantiram que a proposta de Constituição estabeleça o islã como principal fonte de legislação. Mais do que isso, há um dispositivo que torna ilegal toda lei que contrarie o islamismo.
Os sunitas, que boicotaram o pleito legislativo de janeiro, ficando sub-representados na Assembléia, não tiveram força política para bloquear as iniciativas das outras facções. Correm o risco de ficar também empobrecidos. O projeto prevê que a riqueza produzida pelos poços de petróleo já existentes seja distribuída proporcionalmente por todo o país. Poços futuros, contudo, ficariam com os governos regionais. Os sunitas são majoritários apenas no centro e no oeste do país -e o óleo se concentra no norte e no sul.
Curdos e xiitas têm força para aprovar a Carta na Assembléia, mas seria um duplo erro passar por cima dos sunitas. Para começar, a Constituição vai a referendo popular em outubro e pode ser rejeitada se duas Províncias votarem contra a proposta. Os sunitas são majoritários em três. Mais importante, porém, é o fato de que os sunitas constituem o foco da insurgência. Qualquer acordo do qual eles estejam excluídos significa a perpetuação da guerra civil ou até sua intensificação, que poderia levar à fragmentação do Iraque.


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