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CRISE À VISTA
A nova Constituição proposta
para o Iraque já embute a próxima crise, que poderá resultar até
mesmo na divisão do país.
A poucos minutos do fim do prazo
estipulado, a comissão conseguiu
entregar à Assembléia Nacional uma
proposta de texto. O problema é que
não há consenso político em torno
dela. Os grupos mais poderosos lograram inscrever seus principais
pleitos no projeto, mas o fizeram
praticamente alijando os sunitas
-facção que corresponde a cerca de
20% da população iraquiana- do
processo constitucional.
De fato, os curdos -grupo não-árabe que habita o norte e corresponde a outros 20% do país- conseguiram aprovar a idéia de uma federação
fraca, que lhes concede bastante autonomia. Os xiitas -60% da população-, por seu turno, garantiram
que a proposta de Constituição estabeleça o islã como principal fonte de
legislação. Mais do que isso, há um
dispositivo que torna ilegal toda lei
que contrarie o islamismo.
Os sunitas, que boicotaram o pleito
legislativo de janeiro, ficando sub-representados na Assembléia, não tiveram força política para bloquear as
iniciativas das outras facções. Correm o risco de ficar também empobrecidos. O projeto prevê que a riqueza produzida pelos poços de petróleo já existentes seja distribuída
proporcionalmente por todo o país.
Poços futuros, contudo, ficariam
com os governos regionais. Os sunitas são majoritários apenas no centro
e no oeste do país -e o óleo se concentra no norte e no sul.
Curdos e xiitas têm força para aprovar a Carta na Assembléia, mas seria
um duplo erro passar por cima dos
sunitas. Para começar, a Constituição vai a referendo popular em outubro e pode ser rejeitada se duas Províncias votarem contra a proposta.
Os sunitas são majoritários em três.
Mais importante, porém, é o fato de
que os sunitas constituem o foco da
insurgência. Qualquer acordo do
qual eles estejam excluídos significa
a perpetuação da guerra civil ou até
sua intensificação, que poderia levar
à fragmentação do Iraque.
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