São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Silêncio fúnebre

SÃO PAULO - A primeira pergunta do auditório ao presidente interino do PT, Tarso Genro, durante a sabatina de que participou ontem, foi de uma menina de 17 anos que só queria argumentos que a convencessem a votar no PT no ano que vem.
Genro, com uma franqueza corajosa e surpreendente, admitiu que não tinha um só argumento a oferecer. "Neste momento", ressalvou.
É o definitivo atestado de óbito de um partido. Se, há dois anos e meio, algum garoto/a pedisse argumentos a qualquer dirigente petista, ele se levantaria da cadeira, ofereceria a estrelinha vermelha ao jovem e levaria seu voto, mesmo que não acrescentasse um só argumento. O PT passou a vida vendendo sonhos. Entregou o mais nefando pesadelo em apenas dois anos e meio de governo.
É um caso de estudo para a ciência política universal. Já escrevi neste espaço uma e outra vez que o PT fez a mais radical e rápida guinada para a direita de que se tem notícia na história partidária do planeta.
Agora, suicida-se a uma velocidade igualmente incomparável.
Genro bem que tentou, na sabatina de ontem, citar outros partidos de esquerda que foram vítimas de processo semelhante de esclerose múltipla e relativamente rápida (o PS italiano, o partido socialista espanhol), mas não há termo de comparação entre os problemas em que se envolveram lideranças desses partidos e o apodrecimento do PT.
Apodrecimento a olho nu, constatado não só pela oposição e por uma parcela importante da opinião pública, mas pelo próprio presidente interino do partido.
A única defesa, assim mesmo relativa do PT, está dada pelo fato, igualmente apontado pelo seu presidente interino, de que nenhum partido de esquerda foi até agora capaz de pôr de pé alguma coisa que faça sentido e seja diferente das políticas que o governo Lula implementou e são de um conservadorismo tão infernal que deixa sem argumentos até um dos poucos teóricos que restam no PT.

@ - crossi@uol.com.br


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