São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Favoritismo inercial

Estabilidade no Datafolha favorece Lula; resultado pode levar oposição a atacar mais o presidente no flanco ético

SESSENTA milhões de eleitores, deduz-se a partir do que apurou o Datafolha mais recente, estariam dispostos a reconduzir Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência se a votação fosse realizada hoje. A 39 dias do primeiro turno e vencida a primeira semana de propaganda política no rádio e na TV, as chances de o petista ser reeleito dispensando uma segunda rodada eleitoral permanecem no mesmo patamar em que estavam há duas semanas.
Lula mantém-se dez pontos percentuais à frente do conjunto de seus adversários -será eleito no primeiro turno se obtiver, em 1º de outubro, mais votos do que todos os conquistados pelos seus concorrentes. Em termos puramente estatísticos, essa é uma margem que pode ser fácil e rapidamente anulada; basta, por hipótese, que o grupo dos outros seis candidatos ao Planalto amealhe cinco pontos percentuais do representante do PT.
No entanto, o simples fato de os principais parâmetros da pesquisa não terem se alterado, a esta altura do processo sucessório, é um fator inercial que conta a favor dos interesses do petista. Nesse sentido também têm caminhado alguns indicadores estatísticos mais específicos, o que contribui para a percepção de que a preferência do eleitor está em processo de solidificação.
De cada 100 pessoas que assinalam o nome de Lula, após estimuladas pelo Datafolha, 80 afirmam estar totalmente decididas quanto a seu voto -eram 74 em meados de julho. A rejeição, outro elemento que em potencial limitava a ascensão petista e favorecia a do ex-governador Geraldo Alckmin, também mudou de configuração. Caiu o índice dos eleitores afirmando que não votariam em Lula de jeito nenhum, e o inverso ocorreu com Alckmin. Agora a rejeição ao petista e a ao tucano estão no mesmo patamar: cada um é recusado por um quarto dos eleitores.
Essa aparente decantação não pode ser tomada como tendência inexorável. Índices de fidelidade, taxas de rejeição e níveis de intenção de voto estão todos sujeitos a oscilações bruscas numa campanha eleitoral cujo ápice ainda está por vir.
O que se conclui dessa primeira pesquisa após o início da propaganda na TV e no rádio é que ficou mais difícil para a oposição evitar a vitória de Lula nas urnas. O índice de aprovação recorde obtido pelo governo federal e o fato de as simulações de segundo turno estarem apontando um distanciamento favorável ao petista corroboram essa leitura.
Na campanha de Geraldo Alckmin, o estreitamento das perspectivas de vitória trazido pelo Datafolha deu força aos que propugnam por uma inflexão na estratégia da campanha. Querem que Lula seja cobrado de modo mais incisivo no seu flanco mais vulnerável -o campo ético-, algo que não aconteceu até aqui.
Não se sabe qual será a reação do eleitorado a um endurecimento nos ataques ao presidente e à exposição sistemática da série impressionante de escândalos que ocorreram ao longo de seu governo. Mas à oposição restam cada vez menos alternativas além de pagar para ver.


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