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Favoritismo inercial
Estabilidade no Datafolha favorece Lula; resultado pode levar oposição a atacar mais o presidente no flanco ético
SESSENTA milhões de eleitores, deduz-se a partir do
que apurou o Datafolha
mais recente, estariam
dispostos a reconduzir Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência se
a votação fosse realizada hoje. A
39 dias do primeiro turno e vencida a primeira semana de propaganda política no rádio e na
TV, as chances de o petista ser
reeleito dispensando uma segunda rodada eleitoral permanecem no mesmo patamar em que
estavam há duas semanas.
Lula mantém-se dez pontos
percentuais à frente do conjunto
de seus adversários -será eleito
no primeiro turno se obtiver, em
1º de outubro, mais votos do que
todos os conquistados pelos seus
concorrentes. Em termos puramente estatísticos, essa é uma
margem que pode ser fácil e rapidamente anulada; basta, por hipótese, que o grupo dos outros
seis candidatos ao Planalto
amealhe cinco pontos percentuais do representante do PT.
No entanto, o simples fato de
os principais parâmetros da pesquisa não terem se alterado, a esta altura do processo sucessório,
é um fator inercial que conta a favor dos interesses do petista.
Nesse sentido também têm caminhado alguns indicadores estatísticos mais específicos, o que
contribui para a percepção de
que a preferência do eleitor está
em processo de solidificação.
De cada 100 pessoas que assinalam o nome de Lula, após estimuladas pelo Datafolha, 80 afirmam estar totalmente decididas
quanto a seu voto -eram 74 em
meados de julho. A rejeição, outro elemento que em potencial
limitava a ascensão petista e favorecia a do ex-governador Geraldo Alckmin, também mudou
de configuração. Caiu o índice
dos eleitores afirmando que não
votariam em Lula de jeito nenhum, e o inverso ocorreu com
Alckmin. Agora a rejeição ao petista e a ao tucano estão no mesmo patamar: cada um é recusado
por um quarto dos eleitores.
Essa aparente decantação não
pode ser tomada como tendência
inexorável. Índices de fidelidade,
taxas de rejeição e níveis de intenção de voto estão todos sujeitos a oscilações bruscas numa
campanha eleitoral cujo ápice
ainda está por vir.
O que se conclui dessa primeira pesquisa após o início da propaganda na TV e no rádio é que
ficou mais difícil para a oposição
evitar a vitória de Lula nas urnas.
O índice de aprovação recorde
obtido pelo governo federal e o
fato de as simulações de segundo
turno estarem apontando um
distanciamento favorável ao petista corroboram essa leitura.
Na campanha de Geraldo Alckmin, o estreitamento das perspectivas de vitória trazido pelo
Datafolha deu força aos que propugnam por uma inflexão na estratégia da campanha. Querem
que Lula seja cobrado de modo
mais incisivo no seu flanco mais
vulnerável -o campo ético-, algo que não aconteceu até aqui.
Não se sabe qual será a reação
do eleitorado a um endurecimento nos ataques ao presidente
e à exposição sistemática da série
impressionante de escândalos
que ocorreram ao longo de seu
governo. Mas à oposição restam
cada vez menos alternativas
além de pagar para ver.
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