São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Para ganhar tempo

AO QUE tudo indica, o Irã não irá paralisar seu programa de enriquecimento de urânio, como exige o Conselho de Segurança da ONU. A resposta de Teerã à oferta de incentivos econômicos em troca da suspensão de atividades nucleares parece mais uma tentativa de ganhar tempo e dividir as potências que pressionam o país.
A resposta iraniana, qualificada por diplomatas alemães como "volumosa e complexa na essência" -um eufemismo para verborrágica e confusa-, ainda não foi publicada. Mas Teerã já antecipou que não cumprirá o prazo dado pela ONU (31 de agosto) para a suspensão do seu programa de enriquecimento.
A estratégia iraniana, embora simplista, deverá ter êxito, menos pelas habilidades diplomáticas do presidente Mahmoud Ahmadinejad do que pela divisão dos países que pressionam o Irã.
Em teoria, EUA, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha estão unidos em relação à necessidade de Teerã suspender seu programa nuclear, e a resolução da ONU autoriza a adoção de sanções econômicas caso ele seja mantido. Não há, porém, acordo em relação ao tipo de punição.
Rússia e China, boas parceiras comerciais de Teerã, são contrárias a punições fortes. A França também reluta. O máximo de consenso até agora é o banimento do Irã de competições esportivas internacionais e outras medidas de caráter simbólico.
Além das divisões na ONU, Ahmadinejad tem petróleo. O Irã é o quarto maior exportador do mundo. Dificilmente teria poder para levar o planeta à escassez, mas sobram-lhe forças para provocar uma alta ainda maior no preço do produto. É o que basta.
Embora Teerã esteja diplomaticamente isolada, não cessa de colecionar vitórias políticas, como vem fazendo no Iraque, no Líbano e provavelmente agora também em relação ao urânio.


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