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FERNANDO RODRIGUES
Patrimonialismo na informação
BRASÍLIA - O episódio Dilma
Rousseff x Lina Vieira, sobre a tal
reunião secreta entre ambas, revela
também um tipo específico de patrimonialismo. No caso, a atitude
de quem assume um cargo público
e imagina-se dono dos documentos
e dados produzidos enquanto está
no poder.
Esse patrimonialismo no trato da
informação não é invenção de Lula.
A cultura está instalada há décadas
em todos os níveis de governo.
Mesmo no período mais democrático da história do país, FHC e
Lula adotaram comportamentos similares. O tucano gravava fitas de
áudio relatando sua rotina. A intenção, assim consta, é divulgar esse
tesouro algum dia -mas não há notícia precisa de quando o ex-presidente liberará os dados.
De maneira análoga, Lula tem
quase sempre ao seu lado uma assessora anotando num laptop o
conteúdo de reuniões. Só para consumo interno e do presidente.
Como foi exatamente a decisão
sobre a flexibilização do câmbio, em
1999? O que os ministros diziam a
FHC? E em 2005, na fase aguda do
mensalão, qual era o teor das reuniões políticas de Lula no Planalto?
Nada foi gravado nem registrado de
maneira oficial.
De volta ao caso Dilma x Lina. É
uma demonstração de atraso institucional a Casa Civil e a Receita Federal não terem um sistema seguro
e confiável no qual esteja registrado, pelo menos, com quem se reúnem os chefes desses órgãos.
Na sexta-feira, o Planalto piorou
o quadro. Informou que as imagens
do seu circuito interno são apagadas a cada período médio de 30 dias.
O estrago está feito.
Se olhar para a frente, Lula pode
lustrar a biografia tomando uma
decisão nessa área: baixar uma norma obrigando o alto escalão federal
a manter registros rígidos de todas
as reuniões dentro do governo.
Mesmo que algo fique em sigilo
agora, pelo menos no futuro o país
conhecerá melhor a sua história.
frodriguesbsb@uol.com.br
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