São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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ALBA ZALUAR

Apitaço e segurança

"Desistimos de ser caçadores", ouvi de policiais da cidade que foi das mais violentas no mundo: Chicago.
Questionado por que, o policial respondeu com racionalidade incontestável: "A polícia não pode ter olhos e ouvidos em todos os cantos da cidade. Precisa dos moradores".
Essa nova estratégia de policiamento e investigação baseia-se na proximidade de encontros entre policiais e vizinhos. Ela se combina com novas tecnologias de registro de incidentes na rede de comunicação em tempo real entre as polícias. Cada policial, de qualquer corporação, quando munido de minicomputadores ou informado antes de sair à rua, fica sabendo onde estão as zonas quentes da atividade criminal na sua área.
É a base de uma política de prevenção pró-ativa. Soluções privadas são procuradas pelos moradores assustados das cidades brasileiras.
Em Laranjeiras, Rio de Janeiro, vizinhos de ruas próximas resolveram inventar um sistema público, barato e criativo para se precaverem contra a escalada de assaltos na vizinhança: o apitaço.
Quando chegam em casa, um leve silvo é respondido pelos vizinhos. Quando vêem algo estranho, um silvo bem longo é logo seguido pelo apitaço. Os predadores, assustados pelo estardalhaço, fogem.
Em outras áreas, amedrontados moradores têm reagido com soluções onerosas nos bairros ricos e pobres das cidades. Nas áreas ricas, a segurança privada é cara, mas não deixa os contribuintes imunes aos assaltantes e seqüestradores mais experientes ou de dentro de casa/ condomínio. A maior parte desses seguranças não está sob o controle e treinamento da Polícia Federal. Os pobres também reagiram.
Áreas dominadas por traficantes têm boa segurança quanto a assaltos e péssima quanto ao consumo e tráfico de drogas, guerra de quadrilhas, tiroteios entre traficantes e policiais, extorsão praticada por policiais corruptos e violentos, uso de armas para resolver quaisquer conflitos.
Cansados dos tiroteios e abusos, vizinhos pobres começaram a apelar para outra segurança privada: a milícia, nome genérico para situações altamente diferenciadas em que moradores passam a defender a vizinhança de possíveis predadores. Em algumas, nada é cobrado; em outras, tudo onera o orçamento: segurança, gás, água, transporte alternativo irregular, TV a cabo de sinal roubado etc. Nessas áreas, porém, não há intervenção policial armada nem extorsão de moradores pelos policiais.
Por que não há um projeto nacional de segurança que faça valer essa força demonstrada pelos vizinhos que resolveram reagir, mas estão dominados por outros podres poderes?


ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta coluna.


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