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ALBA ZALUAR
Apitaço e segurança
"Desistimos de ser caçadores", ouvi de policiais da
cidade que foi das mais
violentas no mundo: Chicago.
Questionado por que, o policial
respondeu com racionalidade incontestável: "A polícia não pode ter
olhos e ouvidos em todos os cantos
da cidade. Precisa dos moradores".
Essa nova estratégia de policiamento e investigação baseia-se na
proximidade de encontros entre
policiais e vizinhos. Ela se combina
com novas tecnologias de registro
de incidentes na rede de comunicação em tempo real entre as polícias. Cada policial, de qualquer corporação, quando munido de minicomputadores ou informado antes
de sair à rua, fica sabendo onde estão as zonas quentes da atividade
criminal na sua área.
É a base de uma política de prevenção pró-ativa.
Soluções privadas são procuradas pelos moradores assustados
das cidades brasileiras.
Em Laranjeiras, Rio de Janeiro,
vizinhos de ruas próximas resolveram inventar um sistema público,
barato e criativo para se precaverem contra a escalada de assaltos
na vizinhança: o apitaço.
Quando chegam em casa, um leve silvo é respondido pelos vizinhos. Quando vêem algo estranho,
um silvo bem longo é logo seguido
pelo apitaço. Os predadores, assustados pelo estardalhaço, fogem.
Em outras áreas, amedrontados
moradores têm reagido com soluções onerosas nos bairros ricos e
pobres das cidades. Nas áreas ricas,
a segurança privada é cara, mas não
deixa os contribuintes imunes aos
assaltantes e seqüestradores mais
experientes ou de dentro de casa/
condomínio. A maior parte desses
seguranças não está sob o controle
e treinamento da Polícia Federal.
Os pobres também reagiram.
Áreas dominadas por traficantes
têm boa segurança quanto a assaltos e péssima quanto ao consumo e
tráfico de drogas, guerra de quadrilhas, tiroteios entre traficantes e
policiais, extorsão praticada por
policiais corruptos e violentos, uso
de armas para resolver quaisquer
conflitos.
Cansados dos tiroteios e abusos,
vizinhos pobres começaram a apelar para outra segurança privada: a
milícia, nome genérico para situações altamente diferenciadas em
que moradores passam a defender
a vizinhança de possíveis predadores. Em algumas, nada é cobrado;
em outras, tudo onera o orçamento: segurança, gás, água, transporte
alternativo irregular, TV a cabo de
sinal roubado etc. Nessas áreas, porém, não há intervenção policial
armada nem extorsão de moradores pelos policiais.
Por que não há um projeto nacional de segurança que faça valer
essa força demonstrada pelos vizinhos que resolveram reagir, mas
estão dominados por outros podres poderes?
ALBA ZALUAR escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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