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RUY CASTRO
Outra cidade limpa
RIO DE JANEIRO - Preces foram
ouvidas e, inspirado na iniciativa do
prefeito Gilberto Kassab, que limpou São Paulo do entulho publicitário que a asfixiava, o Rio também
resolveu arrumar a casa. Já poderia
ter feito isso bem antes. Há anos
não falta quem proteste contra os
abusos que agridem uma das paisagens urbanas mais bonitas do mundo. Mas, antes tarde.
O projeto de lei do vereador Paulo Cerri (DEM) propõe o banimento de outdoors, painéis na lateral de
edifícios e placas em marquises,
além de regular os letreiros das lojas comerciais pelo tamanho das fachadas. Apenas por este último
item já será um alívio ver o Rio livre
daqueles letreiros de bancos, drogarias e casas de vídeo. No lugar deles, renascem as fachadas ecléticas, neoclássicas, art déco ou mesmo
modernistas de seus edifícios.
Pena que, ao contrário da lei paulistana, o projeto carioca libere o
mobiliário urbano e permita que
ele continue a ostentar poluição.
Com isso, já se pode imaginar os
postes, placas de rua, sinais de trânsito e relógios infestados de galhardetes, painéis eletrônicos e outros apêndices para compensar os espaços perdidos.
A idéia de que uma cidade pertence a todos, mas não a cada um de
seus habitantes, já tem milênios na
Europa. Aliás, nasceu lá. No Brasil,
a maioria dos nossos prefeitos nunca ouviu falar dela. Para eles, o dinheiro produzido por uma licença
para instalar um estrupício publicitário é mais importante que a preservação do espaço onde será instalado o dito estrupício.
Os parques, praias, lagoas, praças,
calçadões, encostas, trilhas e ciclovias do Rio, além de sua arquitetura, compõem um patrimônio natural e urbano iniciado há 500 anos.
Pertence aos cariocas e a todos que
se extasiam com ele, não aos agentes da poluição, sejam estes particulares ou administradores.
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