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CLÓVIS ROSSI
Lula, a idéia certa, tarde demais
SÃO PAULO - O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva acertou no
diagnóstico, mas errou no "timing",
em seu discurso de ontem na ONU.
Lula disse que "chegou a hora da
política". Sempre foi hora da política, mas os políticos, inclusive Lula,
demitiram-se da tarefa de pensar e
executar políticas públicas que contrariassem os mercados, ainda que
minimamente.
Logo, a proposta chega tarde. Sugerir que a ONU se incumba de
"uma resposta vigorosa" à crise é,
de novo, uma tese generosa e eventualmente correta. Mas inviável.
Basta lembrar que, no ano passado,
na cúpula do G8, a Alemanha queria
discutir alguma resposta (modesta)
à desregulamentação dos mercados
financeiros, mas os Estados Unidos
vetaram.
Lula, que participou do último
dia daquela cúpula, não foi nem ouvido nem cheirado.
Supor que, agora, os Estados Unidos (e os demais grandes) se dignem a sentar pacientemente com
os 191 outros países-membros da
ONU para ouvi-los e chegar a uma
resposta "vigorosa" é acreditar em
Papai Noel.
Além disso, se algum governante
-de país rico, de país pobre ou de
país emergente- tivesse alguma
proposta "vigorosa" a apresentar, já
o teria feito ou, ao menos, teria a
obrigação de tê-la feito nos incontáveis foros internacionais que se sucedem uns aos outros e produzem
toneladas de palavras e nenhuma
ação, nenhuma.
Por falar nisso, qual é a proposta
de Lula?
Vamos ser francos: ninguém sabe
direito o que está acontecendo e,
por extensão, não pode saber que
proposta apresentar para pôr ordem na bagunça. Não foram só as
grandes financeiras que foram para
o brejo. Junto com elas foram o
FMI, o Banco Mundial, o G8 e cia.
limitada. Você tem lido alguma
idéia, uma que seja, vinda dessas
instituições antes onipresentes nas
crises?
crossi@uol.com.br
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