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CLÓVIS ROSSI
Para a frente e para sempre
PITTSBURGH - É curioso -e mera coincidência-, mas o presidente
Barack Obama disse ontem ao
mundo todo, já que usou a tribuna
das Nações Unidas, o mesmo que
seu colega Luiz Inácio Lula da Silva
de vez em quando diz a seus pares
da América Latina.
"Nada é mais fácil do que atribuir
aos outros a culpa por seus próprios
problemas", disse Obama, tal como
Lula antes.
Suspeito que ambos têm razão. O
ditador líbio Muammar Gadafi, por
exemplo, da mesma tribuna, fez ontem uma confusa catilinária de 96
minutos para culpar os Estados
Unidos e, de quebra, a própria
ONU, por todos os males.
Chegou a sugerir que a ONU mudasse para a Índia ou para a China,
em vez de Nova York, esquecendo-se de que, na China, nenhum desafeto do regime seria autorizado
nem mesmo a entrar.
Em Nova York, aceita-se tudo, no
prédio da ONU, território tecnicamente internacional.
Torço para que a lógica por trás
das falas tanto de Obama e Lula seja
simples: culpar os outros é a melhor
maneira de não resolver problemas. Logo, tratemos de encará-los
coletivamente, em grupos abrangentes como a ONU ou mais exclusivos, como o G20.
Mas o discurso de Obama, pelo
menos o de ontem, tem uma vantagem sobre o de Lula: o presidente
norte-americano não fala em "herança maldita" -e olhe que, se houve no mundo alguma herança maldita, foi a que George W. Bush legou
a seu sucessor.
Olha para a frente e vai propondo
iniciativas, uma atrás da outra, internas ou internacionais, em um
ritmo que parece excessivo para a
capacidade de processamento da
política norte-americana e da comunidade internacional.
Em todo o caso, ganhou um apoio
insuspeitado, do inoxidável Gadafi,
que, coerente com o que faz na Líbia, propôs que Obama fique na Casa Branca "para sempre".
crossi@uol.com.br
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