São Paulo, quinta-feira, 24 de setembro de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Para a frente e para sempre

PITTSBURGH - É curioso -e mera coincidência-, mas o presidente Barack Obama disse ontem ao mundo todo, já que usou a tribuna das Nações Unidas, o mesmo que seu colega Luiz Inácio Lula da Silva de vez em quando diz a seus pares da América Latina.
"Nada é mais fácil do que atribuir aos outros a culpa por seus próprios problemas", disse Obama, tal como Lula antes.
Suspeito que ambos têm razão. O ditador líbio Muammar Gadafi, por exemplo, da mesma tribuna, fez ontem uma confusa catilinária de 96 minutos para culpar os Estados Unidos e, de quebra, a própria ONU, por todos os males.
Chegou a sugerir que a ONU mudasse para a Índia ou para a China, em vez de Nova York, esquecendo-se de que, na China, nenhum desafeto do regime seria autorizado nem mesmo a entrar.
Em Nova York, aceita-se tudo, no prédio da ONU, território tecnicamente internacional.
Torço para que a lógica por trás das falas tanto de Obama e Lula seja simples: culpar os outros é a melhor maneira de não resolver problemas. Logo, tratemos de encará-los coletivamente, em grupos abrangentes como a ONU ou mais exclusivos, como o G20.
Mas o discurso de Obama, pelo menos o de ontem, tem uma vantagem sobre o de Lula: o presidente norte-americano não fala em "herança maldita" -e olhe que, se houve no mundo alguma herança maldita, foi a que George W. Bush legou a seu sucessor.
Olha para a frente e vai propondo iniciativas, uma atrás da outra, internas ou internacionais, em um ritmo que parece excessivo para a capacidade de processamento da política norte-americana e da comunidade internacional.
Em todo o caso, ganhou um apoio insuspeitado, do inoxidável Gadafi, que, coerente com o que faz na Líbia, propôs que Obama fique na Casa Branca "para sempre".

crossi@uol.com.br

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