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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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MARCELO BERABA

O papa e o jornalista

RIO DE JANEIRO - O papa Wojtyla é um forte. Abatido por um atentado e subjugado pelo mal de Parkinson, ele segue em frente como se fosse o jovem alpinista que desafiava as montanhas próximas de sua Cracóvia. É um fenômeno de resistência.
Depois que dois cardeais fizeram, há dias, declarações desastrosas que pareciam antecipar seu óbito, o papa teve forças para fazer mais uma viagem -Pompéia-, manteve a rotina de audiências, comemorou em grande estilo seus 25 anos de pontificado, fez uma festança para santificar madre Teresa e cuidou da própria sucessão ao nomear mais 31 cardeais.
Como todos os papas, ele já deixou tudo pronto para a sua morte. As regras do próximo conclave estão definidas e o colégio de cardeais eleitores está completíssimo. O que não significa que ele esteja entregando os pontos. Ao contrário, parece esses grandes atletas que perseguem recordes. Mais cinco meses e pode alcançar a marca de Leão 13 (1878-1903).
Ao comentar as declarações inconvenientes dos dois cardeais e as reportagens sobre o agravamento da doença do papa, o arcebispo polonês Stanislaw Dziwisz, secretário particular de João Paulo 2º, pediu menos drama. "Alguns jornalistas que falaram e escreveram muito sobre a saúde do papa já estão no céu", disse.
O que me fez temer pelo futuro de um coleguinha americano que nem conheço, John L. Allen Jr. Especialista em Vaticano, ele acaba de lançar no Brasil um livro excelente, "Conclave", que trata da sucessão do papa.
Para demonstrar o interesse mundial no espetáculo que se desenrolará na Santa Sé com a morte de Wojtyla, Allen Jr. informa, no prefácio, que as grandes redes de TV já se posicionaram para acompanhar as cerimônias fúnebres e a fumacinha branca. Desavisado, o jornalista escreve: "Eu também estarei no ar, apresentando quaisquer notícias e informações que conseguir no canal Fox News como seu analista especializado."
Deus o proteja!


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