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ELIANE CANTANHÊDE
Sem mortos e feridos
BRASÍLIA - Lula, caso reeleito, como é provável, vai ter que dar uma
nova cara e uma nova dimensão ao
seu governo, deformado pelos escândalos e pela conseqüente queda
de seus homens de confiança no
Executivo, no Legislativo e no PT.
Vai ter que deixar para trás a legião de mortos e feridos e tocar
adiante, mantendo a agora essencial Dilma Rousseff e o ascendente
Marco Aurélio Garcia, recolhendo
velhos nomes que saíram ilesos, como Ciro Gomes, e sobretudo providenciando novos nomes de onde não se esperem novos escândalos,
como Nelson Jobim, Jorge Viana,
José Sérgio Grabrielli. Duro vai ser
pescar nas águas turvas do PMDB,
mas não tem jeito.
Além de recomeçar sem o time titular, Lula vai ter de admitir um estelionato eleitoral, coisa já quase
rotineira no Brasil. Em 1986, Sarney lançou o Plano Cruzado 2, com
choque fiscal, fim do congelamento
de preços e aumento de combustíveis e tarifas públicas. Em 1998,
FHC segurou o câmbio sobrevalorizado para além dos limites da responsabilidade, só flexibilizando depois de reeleito. Agora, Lula vai ter
que prorrogar CPMF e DRU, engavetar promessas de redução de impostos e já preparar os ânimos para
um aumento menor do salário mínimo a partir de 2007.
"Um senhor desafio", diz o economista Raul Velloso, conhecido
expert em contas públicas.
Mas o pior não é refazer a equipe
e ajeitar o cobertor curto enquanto
articula uma base minimamente
confiável de apoio parlamentar. O
pior é enfrentar tudo isso num ambiente pesado na área ética, a mais
ferida durante o primeiro mandato.
O dossiê paira como fantasma.
Lula tem muitos batalhas pela
frente, especialmente nos primeiros meses, mas a prioridade é manter sua popularidade, é alimentar a
crença de milhões de eleitores que
só vêem o que querem ver. Tempos
difíceis virão. Eles, os eleitores, serão seu maior aliado.
elianec@uol.com.br
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