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ROBERTO MANGABEIRA UNGER
29 de outubro
HÁ NO PAÍS desejo intenso
de ingressar em etapa nova
de nossa vida nacional: etapa marcada por ampliação decisiva
de oportunidades econômicas e
educativas, por predominância dos
interesses de trabalhadores e produtores sobre os interesses de rentistas e por reorganização da democracia brasileira para livrá-la da
sombra corruptora do dinheiro. A
reeleição do presidente tornou-se
instrumento desse desejo.
Entre as forças políticas que se
reúnem em torno dessa causa, começa a emergir consenso mudancista com feições próprias. Respeitar o imperativo do realismo fiscal,
abandonando a ilusão de que haja
maneira rápida e responsável de
baixar a carga tributária ou o gasto
público, a não a ser o gasto, tremendo, em juros.
Reconhecer que as pequenas transferências de recursos aos mais pobres não bastam
para libertar o povo brasileiro: é
preciso tirar a camisa-de-força do
juro alto e do câmbio baixo, pôr fim
à dualidade de trabalho formal e
informal e usar os poderes e recursos do Estado para abrir, em favor
de dezenas de milhares de empreendimentos emergentes, o
acesso a crédito, tecnologia e mercados.
Tratar a melhora da qualidade da educação pública como prioridade da política social. Para isso, impor, sob responsabilidade federal, mínimos de investimento por aluno e de desempenho por escola
em todo o país e substituir ensino
enciclopédico por ensino analítico
e capacitador. E tomar quatro iniciativas destinadas a assegurar o
espaço republicano de que precisamos para enfrentar nossos problemas: financiamento público das campanhas, reorganização do processo orçamentário, mudança do regime eleitoral e substituição da
maioria dos cargos comissionados
por carreiras de Estado.
O Brasil está pronto para esse
projeto. Está disposto a sacrificar,
desde que a construção de oportunidades para trabalhar, aprender e
participar legitime o sacrifício. A
provável degeneração do quadro
internacional, com diminuição da
liqüidez e acirramento dos conflitos e das ameaças, o sentimento de
que a fórmula das políticas emergenciais no econômico e no social
se esgotou e a impaciência para
crescer e para criar -tudo aponta
na mesma direção. Falta traduzir a
tarefa em iniciativa.
Temos o recurso indispensável:
vitalidade. Escreveu o poeta-profeta Hoelderlin: quem pensa mais
profundamente ama o que tem
mais vida. Quem por esse critério
se pautar, terá paixão pelo Brasil.
No 29 de outubro, o povo brasileiro
reafirmará sua fé em si mesmo. E
declarará sua intenção de exigir
ímpeto transformador do governo
da República.
www.law.harvard.edu/unger
ROBERTO MANGABEIRA UNGER escreve às terças-feiras nesta coluna.
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