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FERNANDO CANZIAN
Um novo velho Brasil
SÃO PAULO - A última vez em que
o Brasil cresceu os 7,5% previstos
para este ano foi em 1986, ano do
Plano Cruzado. Lá se vão quase 25
anos. Nesse intervalo, a economia
oscilou até um grande vale recessivo (-4,3% em 1990) e em direção a
alguns picos (6,1% em 2007 é o
maior), que não se sustentaram.
Lançado em abril sob José Sarney, o Cruzado conteve artificialmente a inflação e, na prática, estourou seis dias depois das eleições
de 15 de novembro de 1986, quando
o Cruzado 2 foi anunciado.
Antes, o PMDB de Sarney (que
abrigava muitos dos tucanos de hoje) deu uma "lavada" nas urnas.
Elegeu 22 dos 23 governadores e a
maioria na Câmara dos Deputados.
Três meses depois, o Brasil quebrou. Com reservas cambiais de
apenas US$ 2,8 bilhões, suficientes
para só três meses de importações,
Sarney declarou a moratória da dívida externa. O resto é história.
Quatro planos de estabilização
depois, o Brasil é completamente
outro. Os métodos nem tanto.
O "Pibão" de 7,5% deste ano (que
está mais para 8%) é, de novo, insustentável. Passada a eleição presidencial, que tem a candidata oficial como favorita, deve vir, quase
certamente, uma correção.
O Brasil só sustenta o atual nível
de crescimento porque tem uma
economia aberta, reservas altas
(que custam uma fortuna) e um deficit crescente em suas transações
com o resto do mundo.
Mais importante: o mundo rico
está em crise, com juros no chão. Isso leva capitais a fluírem para países irresponsáveis fiscalmente e
com juros elevados, nosso caso.
Neste ano, o Brasil precisará de
mais de US$ 50 bilhões em dinheiro
de fora para fechar suas contas, arrombadas por importações que
crescem rapidamente para suprir a
voracidade da demanda interna.
Nesse ritmo, já há quem projete
uma necessidade de financiamento
de US$ 100 bilhões em 2011.
Na superfície, tudo parece bem.
Isso já aconteceu outras vezes.
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