São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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CHEGA DE CENA

O debate sobre o piso salarial do país tornou-se um enredo rocambolesco. O presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, mencionou nesta semana o que seria outra forma de viabilizar o aumento do salário mínimo para R$ 180 em 2001. Citou a criação de um tributo chamado "contribuição da solidariedade". Sem entrar em detalhes, disse que uma pessoa que recebe R$ 10 mil ao mês contribuiria com 1% dos rendimentos.
O presidente apontou ainda outras fontes possíveis de financiamento para o mínimo. Seriam, basicamente, medidas de corte de despesas (diminuição do teto para emendas de parlamentares ao Orçamento) e de aumento de receitas (conceder mais poderes à Receita de combate a elisão e sonegação fiscal). Depois de ensinar o caminho das pedras, FHC, mais uma vez, passou a responsabilidade pelas medidas ao Congresso.
O resumo desta ópera de mau gosto é simples. Todos se mostram desejosos de obter as glórias de defender os R$ 180. Poucos se dispõem a carregar o ônus de tomar medidas impopulares, como aumento de imposto e taxação de inativos.
Porém não se vai conquistar um mínimo maior sem descontentar, ou seja, onerar, mais alguns setores. A taxação sobre os servidores inativos é uma medida justa do ponto de vista social. Se o Supremo Tribunal Federal derrubou a primeira tentativa de fazê-lo, foi porque os parlamentares não se dispuseram a alterar o dispositivo constitucional que proibia expressamente a cobrança sobre aposentados. Tratou-se de lei malfeita.
Há oportunidade, portanto, para uma segunda tentativa. Estarão dispostos o presidente da República e os parlamentares da base governista a levar esse assunto a termo em nome de um salário mínimo maior? Estarão dispostos a discutir medidas concretas que aumentem a progressividade e, portanto, a justiça da tributação? Estarão dispostos os parlamentares a abrir mão de parte de seu poder de ordenar despesas para seus feudos locais também em nome de um piso salarial maior?
A resposta, por enquanto, por trás da cena, é um rotundo não.


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