São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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O MAL DA CARNE

A doença da vaca louca, a encefalopatia espongiforme bovina (BSE), é uma moléstia neurológica fatal que atinge o gado. Pessoas que consumam carne bovina podem, em princípio, desenvolver uma variante da doença de Creutzfeldt-Jakob (nvCJD), igualmente fatal.
Em termos epidemiológicos, a patologia é irrelevante. Até hoje se registraram apenas 80 casos no Reino Unido e 3 na França. O fato, contudo, de uma doença particularmente cruel poder estar escondida numa suculenta bisteca já é suficiente para disseminar o pânico.
Para agravar ainda mais o quadro, a BSE e a nvCJD são aparentemente provocadas por príons, proteínas auto-replicáveis sem ácido nucléico, o que as torna, pelos critérios mais usuais, menos do que seres vivos. Os mecanismos de transmissão da doença são ainda uma incógnita para os cientistas. Os príons normalmente se alojam em tecido nervoso. O filé "mignon" é em princípio mais seguro do que as bistecas ou carnes moídas. As maiores taxas de contaminação no gado são atribuídas às farinhas com que o rebanho é alimentado. Nela são utilizadas carcaças de animais inteiros.
O príon pode permanecer latente no organismo humano por mais de 30 anos; depois que os primeiros sintomas se manifestam, a morte sobrevém em cerca de um ano. Não há evidências de transmissão inter-humanos por sangue, mas, entre ratos em laboratório, ela pode ocorrer.
Os motivos para preocupação, portanto, são reais. Medidas para reduzir os riscos são relativamente simples, mas caras. Envolvem, além de barreiras sanitárias, o sacrifício de parte do rebanho e mudanças na cevagem. A questão é saber se a protecionista Europa conseguirá de fato implementá-las.


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