São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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ELIANE CANTANHÊDE
Laços de família

BRASÍLIA - Não, não. Não é daquela novela que estamos tratando aqui, mas da que envolve os três partidos "aliados" e acaba sobrando para o presidente da República.
Uma "família" que tem ACM, Jader Barbalho, Inocêncio Oliveira e tucanos voando em volta só pode dar nisso. Os primos PMDB e PSDB estragaram o lançamento de Inocêncio para a presidência da Câmara.
O PFL quer a Câmara, mas ACM não quer o peemedebista Jader no Senado. No desespero, Inocêncio tentou o impossível, que seria dissociar uma eleição da outra. Enciumado, o PSDB quer a Câmara para o líder Aécio Neves. Aproveitou-se da briga dos dois, uniu-se ao PMDB, e tudo virou uma barafunda. Coisas da política.
Na prática, significa que o Congresso parou e FHC só tem uma alternativa: perder ou perder. Aos fatos:
1 - ACM admite que foi longe demais para poder fazer o que os políticos sempre fazem: recuar. Ele fará tudo para impedir Jader. Se perder, vai ficar uma fera com FHC.
2 - Jader também não tem condições de desistir da candidatura e articular um outro nome do PMDB. Teria sido razoável, mas antes da radicalização. Agora, vai até o fim. Se perder, vai ficar uma fera com FHC.
3 - Inocêncio só pensa naquilo, de manhã, de tarde, de noite. Se perder, vai ficar uma fera com FHC.
4 - Os tucanos se dizem os primos pobres da aliança no Parlamento. Pura manha. Têm todas as lideranças do governo e os principais cargos no próprio governo. Mas, se perderem, vão ficar umas feras com FHC.
O presidente não tem para onde correr. Apoiar ACM ou Jader? Inocêncio ou Aécio? Só se for maluco. Em qualquer hipótese, mantém um amigo e faz montes de inimigos.
Anos e anos nessa labuta de tentar entender disputas e ameaças no Congresso nos fazem crer que no final a política sempre arranja um jeitinho. Tudo o que FHC tem de fazer agora é, como o PT, ficar quieto no seu canto. A família que se esbofeteie e traga a solução. Se não trouxer? Bem, é ele quem vai arcar com o prejuízo.


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