São Paulo, sexta-feira, 24 de novembro de 2000

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MARCELO BERABA
Crise na polícia, crise na política

RIO DE JANEIRO - Caiu o chefe da Polícia do Rio.
A sua exoneração seria mera rotina se o Rio não tivesse sua imagem ainda tão ligada à violência e não tivesse, junto com São Paulo, algumas das maiores taxas de criminalidade do mundo. E não teria qualquer importância se o governador Anthony Garotinho não misturasse política de segurança com marketing político.
O fato é que a saída do delegado Rafik Louzada do comando da Polícia Civil é mais um componente a alimentar a crise que enfraquece o governo. O próprio Garotinho já admitiu a crise, embora avalie que ela seja apenas política. Mas é evidente que ele tem dificuldades hoje em vários fronts administrativos, como meio ambiente, saneamento básico e habitação popular.
Mas a crise mais explosiva pode ser essa, a da polícia. Há duas versões para a saída do delegado, todas ruins para o governo do Estado.
A oficial, é de que Rafik foi afastado porque é baixa a taxa de elucidação de crimes no Rio. É verdade, baixíssima. O governador calcula que 90% dos crimes não têm solução. Mas esse cálculo é velho, da época da campanha eleitoral. Vale dizer que pouco mudou nos últimos dois anos, embora Garotinho e seu secretário da Segurança tenham passado o ano celebrando a eficiência da polícia. Chegaram a afirmar, recentemente, que o crime organizado está sob controle. O que é um absurdo total.
A Polícia Civil tem outra versão para a saída de Rafik. Ele estaria expressando a resistência da corporação à nova política de segurança que prevê a fusão das duas polícias e sua militarização. Rafik já havia demonstrado sua resistência ao projeto. A gota d"água foi a apresentação dos uniformes que delegados e inspetores terão de usar.
As duas versões revelam o tamanho dos problemas do governador e comprovam como soam débeis os discursos e as ações dos responsáveis por sua política de segurança.


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