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CLÓVIS ROSSI
A normalidade da anomalia
SÃO PAULO - O Brasil é um país
tão estranho, mas tão estranho, que
as maiores anomalias podem ser
expostas de público sem causar o
menor choque.
A mais recente saiu da boca do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva
ao falar sobre as medidas para "destravar" a economia.
"Não me pergunte o que é ainda,
que eu não sei, e não me pergunte a
solução, que eu não a tenho, mas
vou encontrar, porque o país precisa crescer", disse Lula.
É fantástico: Lula passou praticamente toda a sua vida adulta sendo
candidato a presidente; quando, enfim, passa quatro anos governando,
se candidata de novo a presidente,
mas não tem a mais remota idéia do
que é necessário fazer para o país
crescer.
O pior é que ninguém se espantou com a confissão de quem, antes
da eleição ou pouco depois dela, vivia dizendo que as fundações estavam prontas, que as paredes já estavam praticamente erguidas, faltavam apenas detalhes de acabamento para que, por fim, ocorresse o tal
"espetáculo do crescimento".
Na hora de o espetáculo começar,
o diretor da peça avisa que não tem
as falas. Era tudo blablablá, promessas ocas de campanha.
Aliás, vê-se agora, tardiamente,
que já em 2003, quando fez o primeiro anúncio do "espetáculo do
crescimento" (que não houve), Lula
estava "chutando", aliás uma de
suas grandes características. Se não
tem agora a solução, se não tem
agora as respostas para "destravar"
o país, muito menos ainda poderia
tê-las há quatro anos.
Aí, convida o PMDB para um governo de "coalizão", que giraria em
torno do crescimento econômico,
entre outros itens igualmente vagos. Ora, que projeto de crescimento Lula pode oferecer ao PMDB se
ele próprio não tem a mais remota
idéia do que fazer?
No entanto, tudo é dito com a
maior naturalidade e engolido como se fosse verdade. Patético.
crossi@uol.com.br
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