|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NELSON MOTTA
Amor e poder
RIO DE JANEIRO - "O amor é o
culto do impossível", diz a psicanalista Betty Milan, ecoando Lacan,
porque o amor é totalitário, quer fazer de dois seres um só, assim como
o poder almeja que todas as vontades sejam a mesma: a sua.
É duro, mas é verdade. Quem já
viveu o céu e o inferno de paixões
avassaladoras e seus finais devastadores, sabe do que ela está falando:
o sentimento devorador da impossibilidade de uma posse plena, de
uma total integração de corpo e alma, anulando individualidades e
vontades e criando dependência
como uma droga pesada, num processo em que quanto mais se come
mais fome se tem.
As mesmas razões para temer os
venenos e servidões do amor valem
para manter distância de seitas,
igrejas, partidos, facções, torcidas
organizadas e todas as formas de fanatismo que se expressam pela radicalidade, pela exclusão e pela intolerância. Uma boa parte dos horrores do mundo nasce das boas intenções desses que se nutrem de
certezas e de um sentimento de superioridade teológica, ética ou esportiva em relação aos "outros"
-nós todos que não cultuamos seus
deuses e heróis, seus políticos e
atletas. São os que matam "por
amor".
As próprias palavras já dizem
muito: ao "torcer" a realidade e até
a própria visão, pelo resultado, o
torcedor só vê o seu time, não o jogo. Um "partido" é um pedaço, quebrado, parcial, que almeja ser o todo. "Militantes" são movidos pela
disciplina e pela doutrina próprias
dos militares. Mas militares são
guerreiros profissionais que defendem um país de todos -e, militantes, fanáticos vocacionais que querem impor sua fé e sua vontade a todos do país, em nome de Deus, da
Pátria ou do Povo.
Pela causa, pelas calças ou pelas
calcinhas. Sempre por amor, que
tudo absolve e justifica.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Admirável mundo lulista Próximo Texto: José Sarney: O jogo dos sete erros Índice
|