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Editoriais
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Clima de campanha
Obama reafirma metas ambiciosas para conter
o aquecimento global, mas recorre a indústria poluidora contra crise
NO DIA 1º de dezembro
começa em Poznan
(Polônia) a última
grande conferência da
ONU sobre mudança climática
antes de Copenhague. Na Dinamarca, um ano depois, precisará
ficar pronto um acordo internacional para suceder o fracassado
Protocolo de Kyoto, que expira
em 2012. Poucos acreditam que
haja tempo e condições políticas
para concluir nesse prazo um
tratado à altura do desafio.
Foram necessários cinco anos,
após a adoção da Convenção sobre Mudança Climática, em 1992
no Rio, para chegar a Kyoto. Outros 11 transcorreram, desde então, em negociações estéreis,
com a questão do aquecimento
global servindo de molde para
reeditar a disputa Norte-Sul.
Nesse meio tempo, avançaram
tanto as emissões de gases do
efeito estufa quanto o grau de
certeza científica sobre o rumo
da mudança do clima. Tal conjunção permite estimar que, hoje, sem um esforço conjunto de
países desenvolvidos e em desenvolvimento, não seja mais
possível conter o aquecimento
abaixo dos 2C considerados perigosos, em termos de impacto
sobre a economia e as populações do planeta.
O pessimismo que cerca o encontro na Polônia, devido à crise
econômica mundial, foi atenuado pelos sinais de guinada na política obstrucionista dos EUA.
Barack Obama já havia anunciado em campanha que adotaria
compromissos impensáveis sob
George W. Bush, e agora os reafirma com veemência.
Em fala gravada para um encontro de governadores americanos, Obama criticou Bush e
disse que os EUA assumirão a liderança desse processo de negociação global. Prometeu dar o
exemplo adotando metas para
reduzir emissões aos níveis de
1990 em seu país até 2020, cortando 80% adicionais até 2050.
São compromissos tão ambiciosos quanto os assumidos pelo
Reino Unido, que acaba de aprovar sua Lei de Mudança Climática consagrando tais objetivos. O
presidente eleito dos EUA não
enviará, contudo, representante
próprio a Poznan. A delegação
americana estará, mais uma vez,
de mãos atadas pela orientação
refratária da gestão republicana.
Embora reafirmada de modo
enfático, a política para o clima
de Obama não estará isenta de
percalços e contradições. Na
mesma semana, o sucessor de
Bush fez pressão por um pacote
de socorro à indústria automobilística dos EUA, resistente às alterações profundas em tecnologia necessárias para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, vilões principais do agravamento do efeito estufa.
Fala-se muito num "New Deal
verde". Vale dizer, contra-arrestar a crise econômica com a criação de empregos em setores saudáveis do ponto de vista ambiental, como o de energias alternativas e renováveis.
No mundo real, Obama prioriza uma das indústrias mais tradicionais e indutoras de poluição.
Se não souber usar a crise do setor automotivo para arrancar dele uma reviravolta na direção de
carros mais avançados e econômicos, como os híbridos, emitirá
para os EUA e para o mundo sinais contrários aos de seu discurso da semana passada.
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