São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Clima de campanha

Obama reafirma metas ambiciosas para conter o aquecimento global, mas recorre a indústria poluidora contra crise

NO DIA 1º de dezembro começa em Poznan (Polônia) a última grande conferência da ONU sobre mudança climática antes de Copenhague. Na Dinamarca, um ano depois, precisará ficar pronto um acordo internacional para suceder o fracassado Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. Poucos acreditam que haja tempo e condições políticas para concluir nesse prazo um tratado à altura do desafio.
Foram necessários cinco anos, após a adoção da Convenção sobre Mudança Climática, em 1992 no Rio, para chegar a Kyoto. Outros 11 transcorreram, desde então, em negociações estéreis, com a questão do aquecimento global servindo de molde para reeditar a disputa Norte-Sul.
Nesse meio tempo, avançaram tanto as emissões de gases do efeito estufa quanto o grau de certeza científica sobre o rumo da mudança do clima. Tal conjunção permite estimar que, hoje, sem um esforço conjunto de países desenvolvidos e em desenvolvimento, não seja mais possível conter o aquecimento abaixo dos 2C considerados perigosos, em termos de impacto sobre a economia e as populações do planeta.
O pessimismo que cerca o encontro na Polônia, devido à crise econômica mundial, foi atenuado pelos sinais de guinada na política obstrucionista dos EUA. Barack Obama já havia anunciado em campanha que adotaria compromissos impensáveis sob George W. Bush, e agora os reafirma com veemência.
Em fala gravada para um encontro de governadores americanos, Obama criticou Bush e disse que os EUA assumirão a liderança desse processo de negociação global. Prometeu dar o exemplo adotando metas para reduzir emissões aos níveis de 1990 em seu país até 2020, cortando 80% adicionais até 2050.
São compromissos tão ambiciosos quanto os assumidos pelo Reino Unido, que acaba de aprovar sua Lei de Mudança Climática consagrando tais objetivos. O presidente eleito dos EUA não enviará, contudo, representante próprio a Poznan. A delegação americana estará, mais uma vez, de mãos atadas pela orientação refratária da gestão republicana.
Embora reafirmada de modo enfático, a política para o clima de Obama não estará isenta de percalços e contradições. Na mesma semana, o sucessor de Bush fez pressão por um pacote de socorro à indústria automobilística dos EUA, resistente às alterações profundas em tecnologia necessárias para reduzir a dependência de combustíveis fósseis, vilões principais do agravamento do efeito estufa.
Fala-se muito num "New Deal verde". Vale dizer, contra-arrestar a crise econômica com a criação de empregos em setores saudáveis do ponto de vista ambiental, como o de energias alternativas e renováveis.
No mundo real, Obama prioriza uma das indústrias mais tradicionais e indutoras de poluição. Se não souber usar a crise do setor automotivo para arrancar dele uma reviravolta na direção de carros mais avançados e econômicos, como os híbridos, emitirá para os EUA e para o mundo sinais contrários aos de seu discurso da semana passada.


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