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MARINA SILVA
Biocombustíveis, não por acaso
GANDHI DISSE ser muito difícil medirmos todas as conseqüências de nossa ação,
mas que, se não agirmos, nunca poderemos medi-las. O Brasil está
sendo medido, na questão dos biocombustíveis, porque agiu. Há
mais de 30 anos iniciamos a trajetória que resultou no etanol de cana-de-açúcar e numa experiência e
conhecimentos acumulados únicos no mundo. Apostamos na tecnologia, tivemos competência para
viabilizá-la em escala comercial e a
transformamos em janela de sustentabilidade na produção de energia, até que os biocombustíveis de
segunda geração se imponham.
Não por acaso estamos sempre
em foco quando se fala de biocombustíveis. Não por acaso a conferência internacional, encerrada na
semana passada em São Paulo,
atraiu representantes de governos,
cientistas, técnicos e organizações
da sociedade de mais de cem países. O Brasil foi repetidamente citado pelos participantes como referência no tema.
Partindo desse patamar positivo,
deveríamos estar à vontade para
enfrentar críticas, até porque elas
ajudam a identificar problemas e
desafios para aperfeiçoar a cadeia
produtiva dos biocombustíveis no
país. Mas, como se viu na conferência, ainda há quem se incomode
com esse debate, por trás do argumento de que críticas externas são
manifestações da agenda oculta de
interesses comerciais competidores.
Em respeito a nossas próprias
conquistas, é preciso valorizar a
discussão dos problemas, quando
eles são reais. Do esforço para superá-los é que se alimentará a posição brasileira de vanguarda no setor. Afinal, o que nos interessa não
é propaganda, e sim uma nova narrativa para nossa produção, em
momento de crise ambiental global.
Antes, a maioria das pessoas
adotava apenas critérios técnicos e
estéticos para escolher produtos.
Havia pouca ou quase nula preocupação pelas condições ambientais
e sociais neles embutidas. Agora,
cresce o número dos que exigem
mais do que tecnologia e design;
querem valores humanos e ambientais. Deveria ser de nosso interesse estimular essa postura de
consumo, para quaisquer produtos
e especialmente para os biocombustíveis, que tem um DNA brasileiro tão forte.
As críticas externas e internas
terão sempre uma certa margem
de contaminação pelos diferentes
interesses em jogo, mas não podem
ser tomadas, por isso, como ruído
indesejável. Em mais de 30 anos,
seria quase impossível não se ter
formado um passivo. Enfrentá-lo
significa estabelecer um ponto de
inflexão atualizado e estratégico
para manter, em novos termos, a
enorme vantagem comparativa alcançada.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.
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