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ELIANE CANTANHÊDE
Antes perto do que inacessível
BRASÍLIA - Mahmoud Ahmadinejad vem aumentando sua presença na América do Sul, que fica logo
abaixo e sofre influência direta do
arqui-inimigo do Irã, os EUA. Não
deve ser por acaso.
Primeiro, Ahmadinejad passou a
visitar a Venezuela com uma frequência curiosa. Depois, aproximou-se do Equador e da Bolívia.
Agora, botou literalmente os pés no
Brasil, trazendo mais de 200 empresários de vários ramos, de agricultura a energia.
Diplomacia se faz muito pelos interesses bilaterais, um pouco pelos
regionais e às vezes pelos multilaterais. Na vinda de Ahmadinejad, esses três ingredientes estiveram fortemente presentes, enquanto gays,
feministas, bahá'ís e judeus gritavam do lado de fora dos palácios.
Para o mundo ouvir.
A visita é mais um marco da polêmica política externa brasileira, que
já criou "frisson" com uma cúpula
Mercosul-países árabes em Brasília
e atraiu ao país num só mês os presidentes de Israel, da Autoridade
Palestina e agora do Irã.
A intenção não é assumir um lado
da questão, nem apoiar o regime
iraniano, muito menos compactuar
com as barbaridades de Ahmadinejad, que nega o Holocausto e já pregou "varrer Israel do mapa".
É, ao contrário, fazer como o Brasil faz inclusive com a Venezuela de
Chávez: perto o suficiente para ter
penetração e diálogo, longe o necessário para não se comprometer com
regimes, governos ou decisões pontuais. Ao contrário, tendo força moral para criticá-los.
É melhor ter o Irã por perto e
submetido a alguns compromissos
do que tê-lo isolado para fazer o que
bem entender. Aliás, o simples fato
de haver uma crescente oposição
interna é bom sinal. Ahmadinejad
sabe que ela não está sozinha e que
o mundo está de olho. Não deixa de
ser uma forma de proteção.
Engana-se quem acha que é uma
ação do Brasil veladamente contra
os EUA. Ao contrário, trata-se de
um jogo bem combinado.
elianec@uol.com.br
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