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CARLOS HEITOR CONY
Já vimos este filme
RIO DE JANEIRO - Tal como na
televisão, as novelas da vida real são
recorrentes, repetem-se com frequência mudando apenas alguns
pormenores irrelevantes. O chassi é
sempre o mesmo.
O pedido de extradição do italiano Cesare Battisti transformou-se
num novelão que ainda não chegou
a seu final. A mais alta corte de Justiça do país passou o abacaxi para o
presidente Lula decidir e até agora
sua excelência não decidiu. Sabe-se
que Lula é amigo do peito de todos
os chefes de governo em exercício,
inclusive de Berlusconi, com quem
recentemente trocou afagos e palmadinhas nas costas.
Isso não chega a ser uma suspeição, a relação pessoal entre os dois
presidentes pode ser boa, mas sem
influir na decisão final.
Contudo, gostaria de lembrar um
caso parecido, quando, nos anos 70,
três países, Alemanha, Polônia e Israel, pediram a extradição do criminoso de guerra Gustav Wagner, que
havia anos morava no Brasil.
A folha corrida do criminoso era
horripilante. Em Sobibor, campo
de concentração do qual era diretor, ele apanhava as criancinhas no
colo das mães e as espatifava num
poste da estação ferroviária. Era um
monstro, com mãos enormes e disformes. Romeu Tuma, que o prendera, deixou que eu o entrevistasse,
fiquei sem dormir algumas noites.
Pois o governo brasileiro, pressionado pelos países árabes que dominavam então o preço do petróleo, por meio da Opep, negou a extradição e Wagner veio a morrer,
anos depois, na santa paz dos justos, aqui mesmo no Brasil, onde
nunca foi molestado.
Isso mostra que os casos policiais
em nível internacional transformam-se em casos políticos, que são
resolvidos em termos políticos, a
Justiça, o bom-senso sendo substituídos por interesses momentâneos e até mesmo pessoais das autoridades envolvidas.
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