São Paulo, quarta, 24 de dezembro de 1997.



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Maçaroca criativa

RUI NOGUEIRA

Brasília - Um grupo de empresas brasileiras, quase todas subsidiárias de multinacionais pesos-pesados da economia, começa a introduzir um conceito no ambiente de trabalho que vai dar o que pensar.
A coisa atende pelo burocrático nome de "Promoção da Igualdade de Oportunidades". Ou "Valorização da Diversidade".
Assim, às canhas, podia ser resumida da seguinte maneira: quanto maior for a diversidade humana e cultural dentro de uma empresa, mais criativas são as soluções propostas pelos funcionários. Diversificar é integrar minorias, é ter uma maçaroca de gente que misture brancos, negros, nativos, estrangeiros, mulheres e homens de todas as idades, gordos e magros, hetero, homo e demais opções sexuais.
Motorola, Levis Strauss, IBM, Xerox e FMC são algumas das empresas que, em maior ou menor grau, estão envolvidas com essa idéia.
Em Chicago (EUA), na matriz da FMC, uma multinacional que fabrica máquinas e fatura anualmente ao redor de US$ 5 bilhões, a valorização da diversidade já é uma realidade -até por força das leis norte-americanas.
Na filial brasileira da FMC, em Araraquara (SP), o projeto de valorização da diversidade está engatinhando. Mas os funcionários já fizeram uma primeira identificação das minorias a integrar, num processo de diversificação à paulista: mulheres, negros, nordestinos, gordos, homossexuais, ex-presidiários e sindicalistas.
A sensação é que isso funciona. E, mais do que uma nova reengenhoca, pode ser um saudável aprendizado de convívio com as diferenças. Ou, como diria o roteirista Doc Comparato, a descoberta de que "criar é abandonar todas as certezas".
Nas redações dos jornais, Jesus de La Serna, ex-ombudsman do espanhol "El País", vem pregando essa diversificação faz tempo. Basta abandonar essa idéia do cartório diplomado e povoar as redações com jornalistas-médicos, jornalistas-professores, jornalistas-engenheiros, jornalistas-economistas, jornalistas-jornalistas e jornalistas-cidadão comuns. Baixaria a nossa taxa de arrogância. Ou não?



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