São Paulo, quarta, 24 de dezembro de 1997.



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Medo e insensibilidade

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - José Afonso da Silva, secretário de Segurança Pública de São Paulo, é até onde sei uma pessoa séria, bem-intencionada, responsável, sensível e lúcida. Pelo menos era.
Agora, o secretário reage à pesquisa Datafolha que mostra o medo dos paulistanos e a desaprovação à gestão Mário Covas, na área de segurança, com a suposição de que se trata de "uma realidade momentânea", decorrente do caso "gangue da batida".
É uma inacreditável falta de sensibilidade. O medo dos paulistanos antecede o episódio, antecede a própria gestão Covas/José Afonso, antecede a gestão Fleury, a gestão Quércia, a gestão Montoro e assim vai.
Faz pelo menos 20 anos que a sensação de insegurança do paulistano é um dado da realidade cotidiana. Como o problema não é enfrentado, só faz aumentar.
Já em momentos anteriores, o secretário e também o governador tentaram combater essa percepção esgrimindo estatísticas que supostamente provariam que a situação ou melhorou ou piorou pouco.
É o mesmo que tentar provar, para quem tem pavor de viajar de avião, que se trata do meio de transporte mais seguro até hoje inventado.
Não adianta. Se não funciona com o avião, menos ainda adianta com a segurança pública, área em que qualquer estatística dirá que São Paulo é de fato uma cidade insegura.
José Afonso reage como se achasse que a pesquisa o culpa (e ao governador) pela sensação de insegurança. Não é bem assim. Todo o mundo sabe que o problema é, além de antigo, complexo demais. A grande culpa, tanto do secretário como do governador, é essa falta de sensibilidade para entender um sentimento enraizado. Se 47% dos paulistanos têm medo de sair à noite, não é por masoquismo.
Compreender essa sensação não resolve o problema. Mas seria um primeiro passo para tentar fazer alguma coisa para revertê-la. Nem Covas nem José Afonso estão ao menos tentando.



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