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CLÓVIS ROSSI
A confissão
SÃO PAULO - Ato falho do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,
acaba sendo o reconhecimento de
que o "mensalão" não é apenas um
esquema de caixa dois (já seria crime, como diz o próprio Bastos, mas
há um esforço para transformá-lo em
crime menor, como se houvesse possibilidade de gradação).
Vejamos a frase de Bastos a propósito da entrevista do presidente Lula
em Paris, na qual disse que o PT fizera o que todo mundo faz (ou seja, caixa-2): "Nunca articulei essa versão,
de jeito nenhum. Até porque, se eu
fosse o advogado, montaria uma história muito melhor que essa".
Temos, portanto, a confissão de
uma alta autoridade, especialista na
matéria, de que a versão caixa dois
não passa de "montagem". Ainda
por cima montagem chinfrim, porque Bastos acha-se capaz de armar
uma história muito melhor.
O que não é difícil, aliás: é preciso
ser muito tolinho ou, então, petista
hidrófobo para acreditar na história
dos empréstimos como fonte de abastecimento do PTduto.
O ato falho deixa um rastro de péssimo sabor, sob dois aspectos:
1 - Fica claro que até o ministro da
Justiça acha o presidente da República capaz de "montar uma história",
uma história insustentável. As pessoas de boa-fé ainda poderiam imaginar que o presidente tivesse sido de
fato traído, como ele próprio disse,
em algum momento.
Vê-se, pela frase descuidada de seu
ministro da maior confiança, que
não é bem assim.
2 - Deixa evidente que o próprio
ministro da Justiça prefere "montar
uma história muito melhor" a investigar a verdadeira história do PTduto, obrigação primária, elementar,
básica, já que ele próprio não acredita na versão do caixa dois.
Quando tudo o que um dos melhores quadros do governo tem a dizer é
essa lamentável confissão involuntária, imagino do que não serão capazes outros ministros.
Feliz Natal, se o seu estômago consegue ainda resistir.
@ - crossi@uol.com.br
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