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Editoriais
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Dinheiro que brota
PERÍODOS prolongados de euforia financeira costumam
favorecer a impressão de
que é fácil ganhar dinheiro. Esse
sentimento aumenta a propensão para apostas cada vez mais
arriscadas, algumas à custa de
elevado endividamento.
Quando a maré baixa subitamente, no entanto, vê-se que
muitas dessas operações não estavam escoradas em nenhum parâmetro de realidade. A crise
atual já havia explicitado conflitos de interesses entre as agências de classificação de risco e as
instituições que confeccionavam
e vendiam papéis de dívidas imobiliárias, o estopim da crise.
Também ficaram expostos os
mecanismos de transferência de
riscos por meio de instrumentos
complexos e obscuros, sem supervisão. No mais recente desdobramento dessa novela, o ex-presidente da bolsa Nasdaq, Bernard Madoff, aparece no epicentro de uma megafraude.
Madoff é acusado de ter formado uma gigantesca "pirâmide"
especulativa por meio de um
fundo de investimentos. O esquema é um clássico da burla financeira: consiste em usar o dinheiro aplicado por novos investidores para remunerar os antigos. Quando a entrada de novas
aplicações sofre diminuição
brusca, o esquema vem abaixo.
A trajetória de retornos na faixa de 1% ao mês atraiu vários
bancos, fundos e investidores de
diversos países, inclusive do Brasil. Muitos aplicadores acreditavam que o sucesso da carteira de
investimento de Madoff estava
atrelado ao segredo da estratégia
de gestão. A "caixa preta", na verdade, escondia uma fraude.
As perdas são estimadas em
US$ 50 bilhões. Como de hábito,
a revelação do golpe expôs deficiências várias na supervisão financeira. Num tedioso "déjà vu",
prometem-se reformas para sanar essas falhas -nenhuma capaz de erradicar a inebriante
propensão ao auto-engano que
os ciclos de euforia aguçam.
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