São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

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Editoriais

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Dinheiro que brota

PERÍODOS prolongados de euforia financeira costumam favorecer a impressão de que é fácil ganhar dinheiro. Esse sentimento aumenta a propensão para apostas cada vez mais arriscadas, algumas à custa de elevado endividamento.
Quando a maré baixa subitamente, no entanto, vê-se que muitas dessas operações não estavam escoradas em nenhum parâmetro de realidade. A crise atual já havia explicitado conflitos de interesses entre as agências de classificação de risco e as instituições que confeccionavam e vendiam papéis de dívidas imobiliárias, o estopim da crise.
Também ficaram expostos os mecanismos de transferência de riscos por meio de instrumentos complexos e obscuros, sem supervisão. No mais recente desdobramento dessa novela, o ex-presidente da bolsa Nasdaq, Bernard Madoff, aparece no epicentro de uma megafraude.
Madoff é acusado de ter formado uma gigantesca "pirâmide" especulativa por meio de um fundo de investimentos. O esquema é um clássico da burla financeira: consiste em usar o dinheiro aplicado por novos investidores para remunerar os antigos. Quando a entrada de novas aplicações sofre diminuição brusca, o esquema vem abaixo.
A trajetória de retornos na faixa de 1% ao mês atraiu vários bancos, fundos e investidores de diversos países, inclusive do Brasil. Muitos aplicadores acreditavam que o sucesso da carteira de investimento de Madoff estava atrelado ao segredo da estratégia de gestão. A "caixa preta", na verdade, escondia uma fraude.
As perdas são estimadas em US$ 50 bilhões. Como de hábito, a revelação do golpe expôs deficiências várias na supervisão financeira. Num tedioso "déjà vu", prometem-se reformas para sanar essas falhas -nenhuma capaz de erradicar a inebriante propensão ao auto-engano que os ciclos de euforia aguçam.


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