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Equilibrar a conta
Política de aumento do mínimo e das pensões em geral precisa viabilizar sustentabilidade da Previdência no futuro
COM crescimento em torno de 5% do PIB no ano
que vem, a crer nas projeções, a arrecadação da
Previdência deverá absorver os
impactos do reajuste do salário
mínimo, de R$ 465 para R$ 510,
que acaba de ser definido pelo
governo. O Executivo também
concedeu 2,5% de reajuste acima
da inflação aos aposentados que
recebem mais que o mínimo.
Os bons ventos da recuperação econômica e
considerações
de curto prazo,
contudo, não
deveriam ocultar os desequilíbrios estruturais que ameaçam o sistema
previdenciário
brasileiro. Em
duas décadas, os
gastos com a
Previdência Social em parcela do PIB mais que
dobraram. A despesa do Brasil
com o sistema de pensões já se
assemelha, proporcionalmente
ao PIB, à de Espanha e Reino
Unido, onde a fração de idosos é
bastante superior à brasileira.
A contrapartida desse padrão
de benefícios é uma carga de impostos sobre a folha de pagamento dos trabalhadores ativos que
está entre as mais altas do mundo. Mesmo esse pesado ônus financeiro incidente sobre a folha,
vale lembrar, é insuficiente para
bancar os gastos da Previdência.
Um volume considerável de benefícios referentes às aposentadorias rurais é concedido a despeito de contribuição prévia.
Até pela natureza não contributiva desses pagamentos, seu
valor e suas condições de reajuste deveriam ser avaliados sob a
ótica das políticas assistenciais
do Estado. Não parece justo que
uma família beneficiária do Bolsa Família receba, em média, R$
80 mensais, enquanto a aposentadoria rural paga R$ 510. A natureza desses dois programas,
vale enfatizar, é assistencial.
A política de elevação do poder
de compra do salário mínimo,
iniciada nos anos FHC e intensificada no governo Lula, tem de
ser pensada não apenas em função dos seus efeitos redistributivos. Nos próximos 20 anos, a
proporção de
brasileiros com
idade acima de
65 anos deverá
duplicar.
O descompasso nas pensões
dos servidores
públicos -que,
aposentados, recebem o mesmo
salário do fim de
sua carreira- é outra questão
que precisa ser equacionada com
urgência.
A consequência da continuidade dessas políticas previdenciárias -descompromissadas com o
equilíbrio das contas ao longo
dos anos- será a redução da capacidade de o poder público investir na infraestrutura e o estrangulamento perpétuo da sociedade por uma gigantesca carga tributária. Inviabiliza-se, nesse passo, a própria capacidade do
país de gerar a renda necessária
para sustentar a Previdência.
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