São Paulo, sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Quem nos garantirá um "Feliz Natal"?

FERNANDO ANTÔNIO FIGUEIREDO


Festas de Natal e de Ano-Novo são excelentes oportunidades para que tanto as pessoas quanto a sociedade inteira não corram atrás de ilusões

Desejar um "Feliz Natal" e um "Feliz ano novo" comporta as dimensões religiosa, sociocultural e até mesmo política. Sob o prisma religioso, esses votos são expressão da confiança em Deus.
O mesmo Pai que enviou seu Filho a este mundo é também o Pai que olha com carinho para todos nós. É verdade que tal olhar nem sempre se traduz na satisfação dos desejos de quem pede, mas sempre garante a concretização da vontade daquele que sabe o que é melhor para seus filhos e filhas.
No que se refere à dimensão sociocultural, é preciso ter presente que o Brasil nasceu marcado pelo símbolo da Cruz de Cristo, e mesmo as pessoas não cristãs alimentam grande dimensão religiosa. Assim, olham para o mesmo Pai, ainda que invocado com nomes diferentes.
Entretanto, quer analisemos o "Feliz Natal" e o "Feliz ano novo" sob o prisma religioso, quer sob o prisma sociocultural, deparamo-nos com um duplo olhar: para o céu e para a terra.
Concretamente, isso significa que pessoas amadurecidas sabem que seu êxito não decorre de uma espécie de "oração forte" ou "passe mágico". Pessoas amadurecidas sabem que "Deus ajuda a quem se ajuda"; que, se, por um lado, Ele concede sua graça, por outro, pressupõe nossa diligente colaboração.
Os votos de "Feliz Natal" e de "Feliz ano novo" são bem mais difíceis de serem compreendidos quando passamos para os planos social e político, nos quais as relações não remetem para a intimidade do coração nem para instituições religiosas, mas para estruturas organizacionais complexas.
Tal complexidade se evidencia ainda mais quando, como no caso do Brasil, nos encontramos diante de mudanças políticas em todos os escalões: Presidência, governadores, senadores e deputados.
Obviamente, tais mudanças não implicam apenas substituição de rostos. Ainda que o partido majoritário continue sendo o mesmo, já se entreveem naturais tensões internas, sobretudo relacionadas à denominada "base aliada". Ademais, como é previsível, os partidos de oposição também buscam se colocar de maneira mais definida diante do poder dominante.
Tudo isso somado a uma série de outros fatores, tanto internos quanto externos, vai abrindo um leque de interrogações sobre a linha do governo central em relação à economia, à própria política, à liberdade de expressão e, naturalmente, aos projetos sociais, exigidos pelos sérios problemas que continuam nos afligindo e que não serão facilmente superados.
É nesse contexto que os desejos das pessoas e os da sociedade, embora teoricamente apontando na mesma direção, "a felicidade", vão se deparar com grandes e muitas incógnitas.
Assim como não são suficientes bons desejos nem súplicas para as pessoas alcançarem a sonhada felicidade, muito menos bastarão bons desejos e súplicas para vencer os desafios políticos e sociais.
Ao mesmo tempo em que percebemos a necessidade de nos voltarmos para Deus, constatamos a necessidade de um esforço muito grande por parte de todos para que, ao menos em parte, nossos sonhos possam ser concretizados.
Festas de Natal e de Ano-Novo são excelentes oportunidades para que tanto as pessoas quanto a sociedade em seu todo não corram atrás de ilusões, mas se recoloquem com realismo diante dos desafios, enfrentando-os com a ajuda divina.
Que Deus nos abençoe, dando-nos coragem e espírito de solidariedade, para que tenhamos um novo ano de crescimento em todos os sentidos.

DOM FERNANDO ANTÔNIO FIGUEIREDO é bispo da diocese de Santo Amaro (SP) e membro da Academia Paulista de Letras.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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