|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Trem para Pasárgada
ZURIQUE - Pego o trem em Genebra para cobrir pela 14ª vez consecutiva o
Fórum de Davos. Neva. Neva pesado
desde domingo.
Leio "The Guardian", feliz da vida
por talvez descobrir a razão do mau
humor de que alguns leitores e muitos amigos reclamam: "24 de janeiro
é o dia mais sombrio do ano", descobriram cientistas da Universidade de
Cardiff (País de Gales). Nasci no dia
25 de janeiro, razão pela qual é feriado hoje em São Paulo, embora alguns
detratores achem que é por causa do
aniversário da cidade.
O estudo diz que 24 de janeiro é
sombrio porque já se dissolveu o espírito festivo de Natal/Ano Novo e ainda não surgiram sinais da primavera. Se eu fosse britânico, vá lá, mas,
no Brasil, o espírito festivo vai até depois do Carnaval e os sinais de primavera são quase permanentes.
Continuo, pois, com direito ao mau
humor. O alvo hoje é o Fórum de Davos. Nos primeiros muitos anos, era
uma espécie de curso de pós-graduação acelerado em atualidade internacional. Ouvia-se um monte de coisas que acabariam dominando a
agenda global nos 12 meses seguintes.
E era a chance de cruzar com "newsmakers" que jamais ou dificilmente
veria em outra circunstância, de
George Soros a Iasser Arafat, de Benazir Bhutto, ex-líder paquistanesa,
a Bill Gates.
Agora, começo a achar que essa
gente toda não tem muita novidade
a dizer, se é que tem alguma. Lula,
por exemplo, vir outra vez a Davos
para outra vez falar da pobreza, me
faz lembrar piadinha do Jô Soares de
muitos anos atrás. Dizia que a primeira viagem à Lua havia sido a coisa mais emocionante do mundo; a segunda, a mais entediante.
Um fundo contra a fome, proposto
uma vez exatamente no convescote
dos super-ricos, pode ter lá alguma
emoção. Mas duas vezes?
O diabo é que Porto Alegre, o anti-Davos, está longe de descobrir como
construir o "outro mundo possível",
de que dá prova a angústia de Emir
Sader em artigo para a Folha.
Alguém aí conhece um trem para
Pasárgada? Com ou sem neve.
Texto Anterior: Editoriais: JARGÃO E PODER Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Desmanchando no ar Índice
|