São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Trem para Pasárgada

ZURIQUE - Pego o trem em Genebra para cobrir pela 14ª vez consecutiva o Fórum de Davos. Neva. Neva pesado desde domingo.
Leio "The Guardian", feliz da vida por talvez descobrir a razão do mau humor de que alguns leitores e muitos amigos reclamam: "24 de janeiro é o dia mais sombrio do ano", descobriram cientistas da Universidade de Cardiff (País de Gales). Nasci no dia 25 de janeiro, razão pela qual é feriado hoje em São Paulo, embora alguns detratores achem que é por causa do aniversário da cidade.
O estudo diz que 24 de janeiro é sombrio porque já se dissolveu o espírito festivo de Natal/Ano Novo e ainda não surgiram sinais da primavera. Se eu fosse britânico, vá lá, mas, no Brasil, o espírito festivo vai até depois do Carnaval e os sinais de primavera são quase permanentes.
Continuo, pois, com direito ao mau humor. O alvo hoje é o Fórum de Davos. Nos primeiros muitos anos, era uma espécie de curso de pós-graduação acelerado em atualidade internacional. Ouvia-se um monte de coisas que acabariam dominando a agenda global nos 12 meses seguintes. E era a chance de cruzar com "newsmakers" que jamais ou dificilmente veria em outra circunstância, de George Soros a Iasser Arafat, de Benazir Bhutto, ex-líder paquistanesa, a Bill Gates.
Agora, começo a achar que essa gente toda não tem muita novidade a dizer, se é que tem alguma. Lula, por exemplo, vir outra vez a Davos para outra vez falar da pobreza, me faz lembrar piadinha do Jô Soares de muitos anos atrás. Dizia que a primeira viagem à Lua havia sido a coisa mais emocionante do mundo; a segunda, a mais entediante.
Um fundo contra a fome, proposto uma vez exatamente no convescote dos super-ricos, pode ter lá alguma emoção. Mas duas vezes?
O diabo é que Porto Alegre, o anti-Davos, está longe de descobrir como construir o "outro mundo possível", de que dá prova a angústia de Emir Sader em artigo para a Folha.
Alguém aí conhece um trem para Pasárgada? Com ou sem neve.


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