São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

Desmanchando no ar

BRASÍLIA - A Transbrasil quebrou, a Vasp está quebrando e a Varig vai mal das pernas, quer dizer, das asas. O negócio da aviação civil está em crise. E exige uma avaliação estratégica, além dos anúncios extra-oficiais esparsos e conflitantes sobre o que o governo brasileiro quer ou não fazer.
O rastro de destruição é grande. Até hoje, anos depois, a estrutura da Transbrasil em grandes aeroportos, como os do Rio, está lá, interditada, deteriorando. Como um fantasma, a empresa se mantém à espreita de um pacote do governo para as demais (leia-se Varig). Quer uma bicada.
Agora, a Vasp. Em 2004, chegou a 6% do mercado, depois a 3% e está praticamente no zero, depois de cancelar vôos em quatro Estados (RJ, SP, BA e PE), alegando baixa ocupação.
Nesse ar de turbulências, discute-se -às vezes não seriamente- o que fazer com a estrela do setor, a Varig. Durante anos, estudaram-se saídas. O vice José Alencar assumiu o Ministério da Defesa e parou tudo.
De um lado, portanto, o governo parece imobilizado, sem saber para onde voar. De outro, a Varig se perde entre os mais variados interesses, desde os da sua controladora, a Fundação Rubem Berta, principal responsável por seus infortúnios, até os dos funcionários, de aeronautas a aposentados. Todos, aparentemente, à espera de um encontro de contas: créditos que a empresa cobra do governo na Justiça contra dívidas que efetivamente tem junto ao governo.
Lembre-se que a Transbrasil abriu a temporada dos processos na Justiça reclamando os mesmos direitos que a Varig agora quer. A Transbrasil ganhou e ainda assim faliu. O governo, ou parte dele, acha que o mesmo vale para a Varig.
Quanto mais o tempo passa, mais o tempo fecha lá em cima. A TAM e a Gol, que vinham sendo exortadas a contribuir para salvar a Varig, cruzaram os braços e aguardam. Só que aguardam o espólio: linhas, estrutura em solo, a nata das equipes.
Que o consumidor não pague a conta. Ou mais essa conta.


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