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Desafios do Fórum Social Mundial 2005
FRANCISCO WHITAKER e ODED GRAJEW
Volta para Porto Alegre, no final
deste mês, o Fórum Social Mundial, em sua quinta edição. Aprofundando as opções de sua Carta de Princípios, adotada em 2001, ele dá agora
grandes passos rumo a ainda mais participação e a ações transformadoras
concretas.
O fórum de 2005 será, por mais incrível que pareça, totalmente auto-gestionado. Nenhuma atividade será programada pelos organizadores fortalecidos,
agora, por mais 15 organizações da sociedade civil brasileira. Dentro estritamente do papel de "facilitadores" que o
"método" Fórum Social Mundial lhes
atribui, eles oferecem, às pessoas e organizações que consideram que um outro
mundo é possível, um espaço para que
se reconheçam mutuamente, troquem
experiências, se articulem para ampliar
e desenvolver sua ação, lancem novas
iniciativas para efetivamente mudar o
mundo.
Na preparação deste fórum, foi feita
em abril/maio de 2004 uma consulta
mundial, a todos que vinham participando dos fóruns anteriores, sobre o
que deveria ser debatido em 2005. As
1.800 respostas permitiram definir 11
grandes áreas de interesse, que formataram o espaço físico em que o fórum se
realizará. Salas de reunião, auditórios e
palcos foram distribuídos em 11 espaços
temáticos, nos quais serão tratados desde a defesa dos bens comuns da Terra e
dos povos até uma nova ordem democrática internacional, passando pela ética e pelas cosmovisões e espiritualidades.
A partir dessa arrumação, os participantes, ao se inscreverem, localizaram
suas atividades no espaço que escolheram, ficando a lista de atividades inscritas acessível a todos, na Internet. Solicitou-se então que eles mesmos "aglutinassem" suas atividades, fundindo-as,
encadeando-as ou programando diálogos entre elas. Isso resultou em 1.900
eventos, entre oficinas, seminários, testemunhos, conferências, atividades artísticas, painéis, reuniões, propostas por
5.700 organizações de mais de cem países. 3.000 profissionais de imprensa já
se credenciaram para cobrir as atividades de mais de cem mil participantes de
120 países (o primeiro fórum, em 2001,
teve 20 mil participantes, 1.870 jornalistas e 440 atividades).
Criou-se também uma nova possibilidade de encontro, apontando para a
proposição de ações concretas: os momentos de articulação e avaliação, como
um horário livre, depois dos três turnos
de atividades. A cada dia, 150 salas podem ser reservadas, antes ou no decorrer do encontro, por aqueles que quiserem usar esse tempo para, em diferentes
parcerias, elaborar planos de lutas coletivas ou simplesmente fazer avaliações.
Esta metodologia facilitará o cumprimento, pelo fórum, de sua função de espaço aberto para impulsionar o debate,
a formulação de propostas, o encontro e
a articulação entre organizações da sociedade civil, superando inclusive barreiras que as separem para promover
outra globalização: a dos direitos humanos, da justiça social, da democracia
participativa, da paz e do desenvolvimento sustentável.
O fórum de 2005será, por maisincrível que pareça, totalmenteauto-gestionado
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Coerentemente com sua Carta de
Princípios, ele não terá um documento
final. Mas dele emergirá uma infinidade
de propostas transformadoras concretas, visando superar o atual modelo de
globalização que privilegia os "valores"
financeiros acima dos valores humanos,
promove a exclusão social, alimenta as
guerras, concentra cada vez mais poder
e riquezas e degrada o meio ambiente.
Tornadas visíveis, em cada espaço temático, em murais de propostas de ação
para a construção de outros mundos,
esses murais serão levados à sessão de
encerramento.
Evento e processo próprios à sociedade civil, independente de governos e
partidos, o Fórum Social Mundial será
mais uma vez acolhido pela população e
pelas autoridades do Estado e da cidade,
que também contribuem, assim como o
governo federal, para que ele se realize.
Mas em seguida continuará a se multiplicar em eventos e articulações, se
enraizando pelo mundo afora, na caminhada internacional que levou sua
quarta edição à Índia. Em 2007, ele
acontecerá na África. Reunido nos dois
dias anteriores ao fórum, seu Conselho
Internacional encaminhará as decisões
a serem tomadas quanto à edição de
2006, estudando as propostas apresentadas por organizações da sociedade civil de outras regiões do mundo.
As oito organizações brasileiras que
promoveram o primeiro Fórum Social
Mundial chegaram a se surpreender,
em 2001, com a resposta do mundo à
sua proposta. Assumiram então a responsabilidade de buscar a plena realização de suas potencialidades. Elas agora
só podem desejar e esperar que a elas se
associem todos os que acreditam na força transformadora das ações que visam
construir uma sociedade mundial igualitária, pacífica e justa.
Francisco Whitaker é membro da Comissão
Brasileira de Justiça e Paz, da CNBB (Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil), e do Secretariado
Internacional do Fórum Social Mundial. Oded Grajew, 60, empresário, é presidente do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
e idealizador do Fórum Social Mundial. Foi assessor do Presidente da República (2003).
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