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Em observação
São Paulo completa 454 anos com deficiências urbanas sérias, mas surge agora o embrião de um sistema para medi-las
SÃO PAULO chega ao 454º
aniversário em estágio
avançado de tensão. Apesar do rodízio municipal
de veículos, o trânsito se engasga
com cerca de 800 novos carros e
motos por dia, que só agravam a
poluição do ar. O transporte de
massa é pouco, lento e falho.
O projeto de despoluição do rio
Tietê tem 16 anos e já custou R$
2,7 bilhões, mas seriam necessários outra década e mais R$ 2 bilhões para livrar a capital do portentoso esgoto a céu aberto. Enchentes e deslizamentos ainda
pontilham o verão com prejuízos
e tragédias.
Mesmo assim, subsistem razões para comemorar o aniversário da cidade nascida na região
do "peixe seco", Piratininga. A
metrópole de 10,9 milhões é uma
cidade jovem para os padrões
mundiais. Sobra-lhe vitalidade
para levantar-se e dar a volta por
cima, como se diz aqui. Basta
mencionar cinema, moda e gastronomia como exemplos do dinamismo cultural da cidade.
Falta a São Paulo, porém, canalizar parte dessa energia a fim de
reduzir os problemas que a tornam pouco habitável para uma
grande parcela da população.
Contam aí não só condições ambientais, mas um mínimo de justiça social, na forma de acesso a
bens e serviços básicos. Em meio
à barafunda bem paulistana de
propostas e soluções urbanas
mirabolantes, como o inesquecível Fura-Fila, a maior concentração de capacidade técnica do país
não foi ainda capaz de produzir
métodos racionais para avaliar o
desempenho daqueles que elege
para governá-la.
Prover a população de um sistema eficiente de autodiagnóstico é o cerne da iniciativa Observatório Cidadão. Anunciada ontem pelo Movimento Nossa São
Paulo, conta com o apoio de 395
de entidades, entre as quais mais
de 30 grandes empresas. A promessa é acompanhar sistemática
e periodicamente 130 indicadores sobre a cidade, de desemprego e evasão escolar a mortalidade
infantil e violência doméstica.
Em paralelo, pesquisas de opinião recolherão avaliações dos
próprios paulistanos sobre mais
de 200 quesitos.
Segundo os organizadores, essa matriz servirá para fiscalizar
de maneira objetiva a performance do governo municipal.
Não só desta ou aquela administração, nem exclusivamente o
prefeito ou a Câmara, mas também as subprefeituras. A meta é
tornar conhecidos indicadores
da desigualdade entre regiões
urbanas, como o fato de Pinheiros ter mortalidade infantil de
6,6 óbitos por mil nascidos vivos
e Parelheiros, de 18,4, portanto
quase três vezes maior no bairro
mais pobre. Daí surgiriam metas
específicas, regionalizadas, para
reduzir a iniqüidade.
Nada disso terá o condão de
transformar São Paulo numa cidade mais agradável e menos injusta. A política não se resolve
por números, mas tampouco pode prescindir deles. Manter governantes sob observação vigilante, com a lupa fria de cifras independentes e confiáveis, pode
contudo revelar-se instrumento
útil para aumentar o controle social e erradicar a lamúria com
que às vezes se confunde, por
aqui, o debate público.
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