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CLÓVIS ROSSI
Lula, Karzai, Nehru
DAVOS - Hamid Karzai preside
um país, o Afeganistão, que é uma
permanente usina de notícias
ruins, muito ruins.
Por isso Karzai surpreende imensamente pela tranqüilidade e auto-confiança que exibe, tema de reportagem que o leitor encontrará algumas páginas adiante.
Até brinquei com ele, dizendo
que, para o presidente de um país
ensangüentado há anos por guerras, terrorismo, pobreza etc., "o senhor parece um monge budista".
Resposta, talvez desconfiada: "O
budismo é uma bela religião".
Karzai depois se descontrai. Comenta que ficou sabendo em Davos
que o Brasil fabrica aviões, bons
aviões. "Mas são muito caros para
um país pobre como o Afeganistão",
emenda.
Brinco que vou sugerir ao presidente Lula que doe um avião ao
Afeganistão. É o gancho para Karzai
fazer ao presidente brasileiro um
elogio que nunca ninguém neste
mundo alguém lhe fez:
"Lula lembra muito antigos políticos indianos".
"Ghandi?", pergunto. "Nehru",
responde Karzai (Jawaharlal Nehru, pai da independência da Índia).
Lula, prossegue o líder afegão,
"tem uma visão, não apenas para o
Brasil, mas para o mundo", impressão que Karzai adquiriu de cinco ou
seis encontros com o presidente
brasileiro nas Nações Unidas.
Quando comecei a trabalhar em
jornalismo, já faz 45 anos, Afeganistão era apenas verbete de aula de
geografia: Afeganistão, capital Cabul. A globalização aproximou-o até
do remoto Brasil. E, definitivamente, Davos torna o mundo ainda
menor.
PS - A pedido de um punhado de
leitores, perguntei a Lawrence
Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, se ele repetiria para o
dólar enfraquecido a piada que fez
em 1999 sobre o real ("uma moeda
virtual", não real). Resposta: "Talvez. Certamente é uma moeda
menos forte".
crossi@uol.com.br
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