|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NELSON MOTTA
Feijão, pagode e globalização
PORTO ALEGRE - Alguém precisa avisar o ministro Carlos Lupi que
os brasileiros que vivem nos Estados Unidos não precisam de uma
"casa do trabalhador" para "matar
saudades de um feijãozinho e ouvir
música popular". Todas essas cidades onde vivem dezenas de milhares de emigrantes brasileiros -como Nova York, Boston e Miami- já
têm um farto comércio de produtos
do Brasil, justamente para atender
a esse mercado, como acontece no
capitalismo.
Na rua 46, em Manhattan, encontra-se tudo o que o ministro acha
que faz falta aos brazucas: restaurantes que servem vatapá, churrasco e feijoada, lojas de bugigangas
eletrônicas, de biquínis, de produtos da Amazônia, de remessa de dinheiro, depiladoras, agências de
viagem, lanchonetes, mercados onde se compra, além do feijão, tudo
de que se precisa para uma feijoada
completa, a preço de banana.
Nessas cidades, a goiabada abunda, só falta o queijo minas, porque a
vigilância sanitária local não deixa
entrar. O resto tem: revista "Caras",
cachaça 51, pomada Minâncora,
sandália Havaiana, camisa do Flamengo, farinha de mandioca, chá
mate, dendê e outros ícones da nacionalidade estão ao alcance de todos. Música popular nem se fala,
qualquer Virgin Megastore tem
mais discos brasileiros do que a
maioria de nossas lojas.
Os brazucas acompanham as novelas e os jogos do Brasileirão pelos
canais internacionais da Globo e da
Record, lêem os jornais brasileiros
pela internet, estão lá por vontade
própria, ninguém os obrigou, voltam quando quiserem. E deviam
voltar logo, já que o governo diz que
aqui está uma maravilha.
Desconfio que essas "casas do
trabalhador" só servirão mesmo
para abrigar amigos e correligionários, pagos em dólar, com o suor dos
nossos impostos: a bolsa-feijão e
pagode.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O vôo de Jobim Próximo Texto: José Sarney: O bolso e a Bolsa Índice
|