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FERNANDO RODRIGUES
Opacidade na política
BRASÍLIA - Há um argumento
torto em vigor a respeito de doações
eleitorais. Os financiadores se dizem constrangidos porque doam
legalmente e seus nomes aparecem
na mídia. Aceitam dar dinheiro, mas sem exposição pública.
Essa atitude antirrepublicana é
dada como aceitável pela maioria
dos políticos. A lei eleitoral aprovada no Congresso em 2009 reforça a
possibilidade de o dinheiro ser doado de maneira escondida. Os financiadores entregam os recursos aos
partidos. A legenda monta um caixa
único e distribui no varejo aos candidatos. Ou seja, nunca será possível saber quem foi o financiador individual de cada político.
O Tribunal Superior Eleitoral pretende combater a opacidade.
Propõe obrigar os partidos a detalhar quanto cada empresa doou
exatamente para cada candidato.
Os políticos já gritaram. Tentarão impedir essa exigência.
O pano de fundo dessa história é
simples. Cristalizaram-se duas forças hegemônicas na política brasileira, PSDB e PT. Tucanos, petistas
e legendas agregadas dominam a
tecnologia de arrecadar fundos
eleitorais. Não têm o menor interesse em alterar o modelo.
Hoje, embora não se saiba ainda
quem será o próximo presidente,
uma coisa é líquida e certa: não faltará dinheiro aos candidatos do
PSDB e do PT. Daí a preguiça e a
acomodação. Mudar para quê?
Transparência demais é burrice, já ensinou Delúbio Soares.
Financiamento eleitoral perfeito
não existe em país nenhum do planeta. Mas é possível reduzir as sombras acabando com os atalhos legais
para doações ocultas. Diferentemente do que dizem os políticos e
as empresas sobre haver uma impossibilidade prática (ninguém
doaria se fosse tudo aberto), esse
sistema vigora nos Estados Unidos
com razoável sucesso. Aqui, a defesa pública do sigilo, quase patológica, impede esse avanço institucional vital para o país conviver com
uma democracia mais madura.
fernando.rodrigues@grupofolha.com.br
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