São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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EMPREGO DA RETÓRICA

As eleições presidenciais norte-americanas trazem para primeiro plano, como aliás ocorre em todas as eleições do mundo, a defesa populista de empregos.
Os democratas são geralmente mais protecionistas, mas o republicano George W. Bush proibiu, nos contratos governamentais, a prática de subcontratação que beneficie trabalhadores estrangeiros.
A prática tem crescido no setor privado, principalmente nas atividades em que é possível a terceirização, como produção de software, telemarketing ou análises clínicas.
Consumidores que, nos EUA, telefonam para fazer reservas aéreas numa companhia norte-americana muito provavelmente são atendidos por um trabalhador na Índia, por exemplo.
A novidade é tecnológica e vem somar-se à perda de empregos por razões mais prosaicas e tradicionais, como a importação em massa de bens cuja produção é intensiva em mão-de-obra. Produzir têxteis ou brinquedos na China ou em alguma ilha caribenha onde os salários são baixíssimos é uma opção inevitável, não só para as empresas que competem no mercado global mas também para as que vendem seus produtos no mercado norte-americano.
Entre os economistas, não há consenso sobre os fatores mais relevantes na destruição de empregos.
Se é verdade que novas tecnologias ou a exploração do trabalho em países periféricos "roubam" empregos dos EUA, é também inegável que o estouro da bolha especulativa, os ataques terroristas e os escândalos de corrupção em algumas das maiores empresas globais causaram demissões em massa. A revista "Economist", que trouxe o assunto para sua capa na semana passada, sublinha que, nos últimos 20 anos, o número de pessoas empregadas nos EUA cresceu 37,4%, bem acima do crescimento populacional de 23,9%.
A retórica populista em período eleitoral é inevitável, mas funciona apenas na medida em que a criação de empregos fica fora de cena.


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