São Paulo, quarta-feira, 25 de fevereiro de 2004

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CAMINHO DA PAZ

Numa rara e surpreendente boa notícia, autoridades da Índia e do Paquistão concordaram em estabelecer um calendário para discutir e resolver suas disputas. Pode parecer pouco, mas o fato de os dois Estados, que já travaram três guerras desde que se tornaram independentes, em 1947, decidirem-se por uma solução negociada para acertar suas diferenças é uma boa notícia. Significa que, pelo menos por ora, eles não consideram a guerra uma opção.
E, não é demais insistir, um novo conflito na região poderia ter conseqüências desastrosas para o mundo. Ambos os países possuem armas nucleares. Se existe um cenário de guerra no qual é concebível a utilização de artefatos atômicos, é justamente num confronto entre a Índia e o Paquistão em torno da Caxemira, a região majoritariamente muçulmana cujo controle está dividido entre a Índia, com quase dois terços, o Paquistão, com um terço, e a China, com cerca de um décimo.
Seria certamente precipitado celebrar o incipiente entendimento como a conquista da paz. As desconfianças mútuas e as dificuldades naturais de um processo de negociação fazem entrever ainda um longo caminho até um entendimento duradouro. É até possível que a presente iniciativa se mostre um fracasso. Essa não é a primeira vez que os dois Estados buscam a via da negociação. Ainda assim, é evidentemente melhor que estejam discutindo a paz do que metidos em escaramuças na fronteira, uma das mais militarizadas de todo o mundo.
Mudanças recentes na política paquistanesa permitem supor alterações na equação que gerava a disputa. É claro que o Paquistão não abriu mão da Caxemira, mas vários analistas sugerem que ele já não a trate como uma questão fundamental. Nas próprias Forças Armadas paquistanesas, seria crescente a percepção de que é elevado demais o preço que o país paga para manter a insurgência na Caxemira indiana. Talvez haja aí uma chance para a paz.


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