São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Os novos rumos da locomotiva

ALBERTO GOLDMAN


A economia globalizada não mais anda sobre trilhos lineares, movimenta-se em rede; São Paulo não abrirá mão de seu papel destacado


DURANTE TODO o século 20, o Estado de São Paulo foi chamado de "locomotiva do Brasil", devido ao seu papel de protagonista do desenvolvimento do país. Desde sua liderança na cafeicultura, passando pela vanguarda na industrialização, no comércio e nos serviços, a economia paulista sempre esteve à frente dos principais processos que inseriram o Brasil entre os mercados mais competitivos do mundo.
A metáfora da economia como um trem, em que cada setor ou localidade representa um vagão, se inseria em um contexto em que os mercados avançavam em linha reta e o fator mais determinante de seus desempenhos era apenas a velocidade com que esse trajeto era percorrido. Hoje, porém, a realidade não é mais essa. A economia globalizada não mais anda sobre trilhos lineares, movimenta-se em rede. Hoje, por exemplo, é absolutamente normal montar-se um veículo do qual cada peça é produzida em um lugar do mundo, substituindo o antigo conceito de linha de produção pelo de cadeias.
Nesse novo cenário, a competição por um novo investimento ultrapassa os limites regionais e toma proporções mundiais. Não raramente, uma empresa analisa dezenas de locais espalhados por todo o globo para abrigar um mesmo projeto. Mesmo os fatores de definição para essa escolha estão se tornando a cada dia mais diversificados. O passado nos preparou bem para essa competição. A estrutura que São Paulo oferece nos coloca em pé de igualdade com os países mais avançados do mundo, graças a uma infra-estrutura moderna, mão-de-obra qualificada, mercado consumidor e outros tantos fatores. Com apenas 3% do território brasileiro, respondemos por 31% do PIB nacional, 33% das exportações, 68% das operações financeiras, entre tantos outros índices que merecem destaque. Mas todo esse processo deve ser contínuo, e chegamos agora a um ponto em que se faz necessário um salto qualitativo.
Em setembro do ano passado, a Secretaria de Desenvolvimento do Estado de São Paulo lançou a primeira etapa de um trabalho conjunto, envolvendo o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e docentes das três universidades estaduais paulistas (USP, Unicamp e Unesp), cujo objetivo é aumentar a competitividade da indústria paulista. Foram realizados 26 estudos setoriais e preparadas propostas de ações a serem discutidas e absorvidas pelo governo paulista ou, quando for o caso, pleiteadas junto ao governo federal.
Os resultados desse estudo foram discutidos no seminário "Uma Agenda de Competitividade para a Indústria Paulista: Desafios e Oportunidades", que ocorreu durante toda a última semana na sede da Fiesp, com o objetivo de identificar as oportunidades e desafios para otimizar a inserção da indústria paulista no cenário internacional. Essa iniciativa ocupa um vácuo existente desde o último estudo de competitividade da indústria brasileira, realizado há 15 anos e resultará em uma política industrial própria para o nosso Estado.
São Paulo tem como diretriz desse e dos últimos governos não ceder às facilidades da guerra fiscal, que oferece soluções que não criam um processo de desenvolvimento sustentável e perene. Muitas vezes, esse verdadeiro leilão acaba por privilegiar mais os interesses privados do que os do Estado e da população.
A alternativa é aumentar a competitividade da economia paulista para a agregação de valor, colocando São Paulo em novos patamares de crescimento. Com a constituição de ambientes favoráveis e incentivos à inovação, reforçando a cooperação entre universidades, institutos de pesquisa e empresas, implantação de parques tecnológicos, apoio aos arranjos produtivos locais, qualificação de mão-de-obra, investimentos em infra-estrutura, entre outros, é possível se estabelecer uma cooperação público-privada cujo resultado será um desenvolvimento sustentável do qual a população do nosso Estado poderá apropriar-se em forma de melhoria de condições de vida.
Dessa maneira, o Estado de São Paulo não irá abrir mão de seu papel de destaque no desenvolvimento do nosso país.


ALBERTO GOLDMAN , 70, engenheiro civil, é vice-governador (PSDB) e secretário de Desenvolvimento do Estado de São Paulo. Foi ministro dos Transportes (governo Itamar Franco) e secretário da Administração do Estado de São Paulo (governo Quércia).

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