São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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O terrível trânsito de São Paulo

ZULAIÊ COBRA RIBEIRO


Nunca o trânsito na cidade esteve tão caótico como agora; não há trabalho educativo, só punitivo. E a situação está cada vez pior


A CIDADE de São Paulo já tem 6 milhões de veículos. O número explosivo foi atingido no final do mês passado, segundo o Detran. Quase empatamos com a Argentina, nosso país vizinho, e estamos no mesmo nível de Tóquio e da Cidade do México. Com uma frota gigante dessas, só mesmo uma ação gigante para tentar resolver o problema.
Em matéria de trânsito, deve prevalecer a prevenção como interesse público mais relevante. A proteção à vida deve ser ostensiva e priorizada, com sinalização, trabalho, organização e educação adequados, que inibam a ação do motorista imprudente.
E a punição, representada pela multa de trânsito, deve ser apenas uma conseqüência dessa ação maior, visando sempre o bem-estar do cidadão. Mas não é isso que acontece. Quem anda em São Paulo, ou melhor, tenta andar, sabe o que eu estou dizendo.
Nunca o trânsito esteve tão caótico como agora. Não há trabalho educativo, apenas punitivo. E a situação está ficando cada vez pior. Claro que a culpa não é só desse governo. As administrações passadas também deixaram as coisas correrem soltas, e o caos está criado.
Em recente entrevista, o ilustre secretário de Transportes da nossa cidade, Alexandre de Moraes, declarou que não "há muito o que fazer para melhorar o trânsito até o fim do ano", pois só com a implementação da identificação eletrônica dos veículos, projeto previsto para 2009, grande parte da frota de veículos irregulares sairia de circulação, o que poderia aliviar a situação dos congestionamentos. Mas a situação não é tão simples assim e nem pode esperar tanto tempo.
Hoje entram em circulação cerca de 800 veículos novos por dia na cidade, segundo o Detran, o que dá uma média de 5.000 por semana. Além do mais, se somarmos os carros da Grande São Paulo -especialmente do ABC, de Guarulhos e de Osasco-, poderemos ter em circulação na cidade um potencial de 10 milhões de veículos. É um número assustador.
A prioridade zero passa por campanhas educativas (por rádio, TV e até mesmo em escolas), que deveriam ser feitas desde já e à exaustão, abordando tudo o que for relevante em relação ao trânsito: desde a educação ao dirigir até a indicação de caminhos alternativos para os principais corredores, que estão totalmente congestionados e saturados.
Os marronzinhos deveriam ajudar sempre na orientação e educação, muito mais do que em multar. Hoje o que mais se vê é que eles manuseiam seus talões de multa como se fossem armas, numa verdadeira intimidação e demonstração de que estão ali para multar e recriminar, mas não para ajudar e educar, funções nas quais os impostos que nós pagamos deveriam ser empregados. Isso sem falar que o Estado tem um convênio com a prefeitura, cuja prioridade é multar. É a famosa "indústria da multa", e o dinheiro, é bom lembrar, não vai para o trânsito, conforme determina a Lei Orgânica Municipal.
A segunda alternativa é agilizar o trabalho da CET. Tem que trabalhar 24 horas por dia. E não são só os marronzinhos. A cúpula -desde o presidente até os engenheiros e técnicos- também tem que estar na rua (ou no ar, com helicópteros alugados), pelo menos boa parte do dia, imbuída e preocupada em resolver o trânsito, e não em administrá-lo, como vem sendo feito atualmente.
A cidade já deveria ter, totalmente funcionando, o sistema de semáforos inteligentes que o ex-prefeito José Serra prometeu implantar e ficou por isso mesmo. O prefeito Gilberto Kassab também não se mexeu, e a cidade, mesmo em férias, tem problemas de trânsito. Imagine quando todas as atividades normais retornarem...
Outra medida inteligente é liberar os semáforos à noite, depois das 22h (religá-los às 5h) e deixá-los piscando em amarelo, para que o motorista, com cuidado, possa andar sem o risco de ser assaltado. A CET também tem que estar mais presente nas ruas para resolver problemas corriqueiros, como o de uma carreta que ficou parada, no último dia 12, uma terça-feira, na Marginal Pinheiros, diante do clube A Hebraica, a partir das 15h, e provocou congestionamento que chegou próximo a Interlagos. Faltou rapidez para guinchar o caminhão até o acostamento? O que impede que a CET aja?
O trânsito tem que ser administrado no seu dia-a-dia, a cada minuto, a cada hora. Essa é uma das funções do prefeito da cidade de São Paulo.


ZULAIÊ COBRA RIBEIRO , 64, advogada criminalista, e pré-candidata à Prefeitura de São Paulo pelo PHS (Partido Humanista da Solidariedade). Foi deputada federal por três mandatos (1995-2007).

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