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Começo cordial
Presidente acena a tucanos, move-se para o centro progressista do espectro político e dá nota conciliatória ao início de seu governo
Desde o início de seu governo, a
presidente Dilma Rousseff mostra-se inclinada a aparar arestas
com a oposição, em particular
com lideranças tucanas.
O mais recente sinal nesse sentido foi o convite a Fernando Henrique Cardoso para uma conversa
pessoal, durante a celebração dos
90 anos da Folha, na segunda.
Já havia chamado a atenção
que ela, de personalidade rígida e
circunspecta, tenha dirigido um
"cumprimento especial" a Geraldo Alckmin e saudado Gilberto
Kassab "com muito carinho"
quando esteve em São Paulo para
homenagear José Alencar.
Esses gestos, com o que simbolizam, não atendem a uma necessidade imediata ou vital de atrair
opositores. Nem os governos tucanos nos Estados estão dispostos a
criar atritos com o Executivo federal, do qual dependem em parte,
nem a oposição, debilitada, oferece ameaça à presidente.
A sedução de lideranças adversárias, o esforço para suavizar as
relações com aqueles contra
quem disputava os votos, parece
ser, muito mais que uma imposição do momento, uma continuação da renitente tendência da política brasileira para a conciliação
e para a cordialidade -no sentido
que deu à palavra Sérgio Buarque
de Holanda.
No seu "Raízes do Brasil"
(1936), quando elaborou o conceito de "homem cordial", o historiador não pretendia se referir aos
eventuais hábitos gentis dos brasileiros, mas sim a um traço formativo do país, segundo o qual as
relações pessoais e de afeto (para
o bem e para o mal) se sobrepõem
à impessoalidade e ao tratamento
frio conforme a lei.
A trégua tácita sugerida por Dilma à oposição funciona quase como complemento -ou consequência- do gigantismo da Presidência e da massa de poder concentrada nas mãos do chefe do
Executivo, sobretudo no início de
mandato. A presidente administra
à sua maneira esse figurino de estilo getulista, de açambarcamento
das forças sociais e partidárias e
acomodação das diferenças.
A seu tempo, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da
Silva, governantes bem sucedidos, agiram conforme a mesma lógica. Mesmo a estridência de Lula,
sua propensão para acirrar a disputa política e inflamar ânimos,
era, quase sempre, um artifício retórico. Se causava reações e desconforto, não chegava a colocar
em risco a orientação pragmática
e conciliatória de seu governo.
Pelo que se vê, é provável que
Dilma venha a imprimir à sua gestão um perfil ainda menos ideologizado que o de seu antecessor.
Faz sentido também pensar que as
boas relações com oposicionistas
ajudam-na a ser a "presidente de
todos os brasileiros", já que quase
metade dos eleitores não a sufragou no segundo turno.
Ao mesmo tempo, a mandatária
procura posicionar-se no centro
progressista do espectro político
-tentando guardar salutar distância de aliados mais à esquerda
ou à direita, representados por pelo petismo ideológico e nomes como Fernando Collor.
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