São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

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Começo cordial

Presidente acena a tucanos, move-se para o centro progressista do espectro político e dá nota conciliatória ao início de seu governo

Desde o início de seu governo, a presidente Dilma Rousseff mostra-se inclinada a aparar arestas com a oposição, em particular com lideranças tucanas.
O mais recente sinal nesse sentido foi o convite a Fernando Henrique Cardoso para uma conversa pessoal, durante a celebração dos 90 anos da Folha, na segunda.
Já havia chamado a atenção que ela, de personalidade rígida e circunspecta, tenha dirigido um "cumprimento especial" a Geraldo Alckmin e saudado Gilberto Kassab "com muito carinho" quando esteve em São Paulo para homenagear José Alencar.
Esses gestos, com o que simbolizam, não atendem a uma necessidade imediata ou vital de atrair opositores. Nem os governos tucanos nos Estados estão dispostos a criar atritos com o Executivo federal, do qual dependem em parte, nem a oposição, debilitada, oferece ameaça à presidente.
A sedução de lideranças adversárias, o esforço para suavizar as relações com aqueles contra quem disputava os votos, parece ser, muito mais que uma imposição do momento, uma continuação da renitente tendência da política brasileira para a conciliação e para a cordialidade -no sentido que deu à palavra Sérgio Buarque de Holanda.
No seu "Raízes do Brasil" (1936), quando elaborou o conceito de "homem cordial", o historiador não pretendia se referir aos eventuais hábitos gentis dos brasileiros, mas sim a um traço formativo do país, segundo o qual as relações pessoais e de afeto (para o bem e para o mal) se sobrepõem à impessoalidade e ao tratamento frio conforme a lei.
A trégua tácita sugerida por Dilma à oposição funciona quase como complemento -ou consequência- do gigantismo da Presidência e da massa de poder concentrada nas mãos do chefe do Executivo, sobretudo no início de mandato. A presidente administra à sua maneira esse figurino de estilo getulista, de açambarcamento das forças sociais e partidárias e acomodação das diferenças.
A seu tempo, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, governantes bem sucedidos, agiram conforme a mesma lógica. Mesmo a estridência de Lula, sua propensão para acirrar a disputa política e inflamar ânimos, era, quase sempre, um artifício retórico. Se causava reações e desconforto, não chegava a colocar em risco a orientação pragmática e conciliatória de seu governo.
Pelo que se vê, é provável que Dilma venha a imprimir à sua gestão um perfil ainda menos ideologizado que o de seu antecessor. Faz sentido também pensar que as boas relações com oposicionistas ajudam-na a ser a "presidente de todos os brasileiros", já que quase metade dos eleitores não a sufragou no segundo turno.
Ao mesmo tempo, a mandatária procura posicionar-se no centro progressista do espectro político -tentando guardar salutar distância de aliados mais à esquerda ou à direita, representados por pelo petismo ideológico e nomes como Fernando Collor.


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