São Paulo, sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

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TV companheira

Reina a normalidade em Trípoli. O clima é de festa na capital da Líbia. Sim, algumas centenas de pessoas já morreram no país de Muammar Gaddafi. Os enfrentamentos, contudo, não abalam o quadro geral -em que a população se mantém leal ao líder líbio.
Nestes termos, a Telesur, rede oficial da Venezuela, noticiou os protestos contra a ditadura de Gaddafi -que já ganharam feições de guerra civil.
A serviço do governo de Hugo Chávez, a equipe da emissora foi autorizada a transmitir de Trípoli sua versão dos acontecimentos. Os repórteres bolivarianos passaram cinco horas detidos pelas autoridades líbias. O percalço não lhes diminuiu a simpatia pelo regime: "Foi um fato fortuito", disse um dos jornalistas, "dada a situação de tanta desinformação" vigente no país.
As relações entre o governo venezuelano e o ditador líbio se mostram, mais uma vez, fortes e afetuosas nesse episódio. Sem chegar tão longe quanto Gaddafi no delírio ditatorial, Hugo Chávez não perde oportunidade para golpear a imprensa, açambarcar os demais poderes, estatizar a economia, lançar bravatas contra o Ocidente, expandir-se em provocações e bufonadas.
Se, como se cogita, Gaddafi terminar procurando asilo em Caracas, no caso de ser apeado do poder, a hospitalidade de Chávez será justa e natural. No mínimo, um reconhecimento pelo fato de o ditador líbio ter agraciado o líder venezuelano com o Prêmio Gaddafi de Direitos Humanos, em 2004.
O Brasil se afasta, ao que tudo indica em definitivo, do risco de receber tais honrarias. Aprovando sem delongas uma condenação ao regime de Gaddafi no Conselho de Segurança da ONU e a proposta de que se investiguem os crimes do ditador, o Itamaraty aparenta retificar, no governo Dilma Rousseff, a excessiva complacência da era Lula com ditaduras de estilo "terceiro-mundista".
Que Chávez, Castro, Gaddafi e Ahmadinejad se entendam e cubram-se de elogios pelas respectivas televisões oficiais (acompanhados, por vezes, de um Berlusconi nas estripulias); o Brasil pós-Lula não tem nada a ganhar nessa sinistra companhia.


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