UOL




São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CARLOS HEITOR CONY

Ponto para Lula

RIO DE JANEIRO - Com o mesmo entusiasmo que critico o Fome Zero lançado pelo presidente da República, programa que até agora não deslanchou e começa a gastar mundos e fundos numa publicidade suspeita, louvo a atitude do presidente diante de um pedido feito pelos Estados Unidos a propósito da guerra no Iraque.
Lula ignorou o pedido norte-americano e demonstrou que está disposto a manter a nossa posição em defesa do direito internacional e da ONU. Não bastou sua condenação à agressão sofrida pelo povo iraquiano. Firmou uma posição de independência e de soberania.
Afinal, tudo se resume em obedecer ou não aos interesses norte-americanos. Ninguém em bom senso pode defender um ditador como Saddam Hussein, mas não é isso que está em questão. Bush deu um ultimato ao seu inimigo na base do "ponha-se lá fora!" -e haverá paz se ele obedecer. Saddam não obedeceu.
Para que a sociedade humana conquiste o direito de viver em paz, é necessário que os líderes nacionais, de qualquer extração ou ideologia, resistam ao poder hegemônico de uma nação que pretende reduzir o mundo a um quintal. Esse mesmo desejo de dominar o mundo pela força foi responsável por uma guerra mundial que quase destruiu a civilização.
Saddam não tem um arsenal sofisticado para se opor à colossal máquina de guerra produzida pelo complexo industrial e militar dos EUA. Nem o Brasil. Mas a atitude de Lula não só está escorada na opinião pública da nação como também marca um protesto contra a violência.
Numa guerra como a do Iraque não adianta torcer por um lado ou por outro, como se se tratasse de um jogo da Copa do Mundo. Há vidas em jogo, e os mortos não têm nacionalidade nem ideologia. Os EUA violaram o direito internacional ao desdenhar o Conselho de Segurança, que serve de árbitro final para as desavenças entre países e blocos coalizados. Provadamente ficaram fora da lei. E ainda não conseguiram provar que Saddam é o bandido da vez.


Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: Do pretexto aos erros
Próximo Texto: Roberto Mangabeira Unger: Qual o melhor negócio no Brasil?
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.