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CARLOS HEITOR CONY
Ponto para Lula
RIO DE JANEIRO - Com o mesmo entusiasmo que critico o Fome Zero
lançado pelo presidente da República, programa que até agora não deslanchou e começa a gastar mundos e fundos numa publicidade suspeita,
louvo a atitude do presidente diante
de um pedido feito pelos Estados Unidos a propósito da guerra no Iraque.
Lula ignorou o pedido norte-americano e demonstrou que está disposto
a manter a nossa posição em defesa
do direito internacional e da ONU.
Não bastou sua condenação à agressão sofrida pelo povo iraquiano. Firmou uma posição de independência
e de soberania.
Afinal, tudo se resume em obedecer
ou não aos interesses norte-americanos. Ninguém em bom senso pode defender um ditador como Saddam
Hussein, mas não é isso que está em
questão. Bush deu um ultimato ao
seu inimigo na base do "ponha-se lá
fora!" -e haverá paz se ele obedecer.
Saddam não obedeceu.
Para que a sociedade humana conquiste o direito de viver em paz, é necessário que os líderes nacionais, de
qualquer extração ou ideologia, resistam ao poder hegemônico de uma
nação que pretende reduzir o mundo
a um quintal. Esse mesmo desejo de
dominar o mundo pela força foi responsável por uma guerra mundial
que quase destruiu a civilização.
Saddam não tem um arsenal sofisticado para se opor à colossal máquina de guerra produzida pelo complexo industrial e militar dos EUA. Nem
o Brasil. Mas a atitude de Lula não só
está escorada na opinião pública da
nação como também marca um protesto contra a violência.
Numa guerra como a do Iraque
não adianta torcer por um lado ou
por outro, como se se tratasse de um
jogo da Copa do Mundo. Há vidas
em jogo, e os mortos não têm nacionalidade nem ideologia. Os EUA violaram o direito internacional ao desdenhar o Conselho de Segurança, que
serve de árbitro final para as desavenças entre países e blocos coalizados. Provadamente ficaram fora da
lei. E ainda não conseguiram provar
que Saddam é o bandido da vez.
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