São Paulo, sábado, 25 de março de 2006

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CLÓVIS ROSSI

A republiqueta de Lula

SÃO PAULO - A sanha com que o governo Lula se atira sobre o caseiro Francenildo não é apenas coisa de gânsters, como diz o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Busato. É também coisa de republiqueta bananeira, dessas em que todo o aparelho de Estado está a serviço não do público, mas dos ocupantes de turno do poder.
Os Somozas faziam a mesmíssima coisa. No Brasil, só faltam o poder absoluto e as violências que o acompanham, porque o resto, especialmente o deboche, está presente.
Investiga-se o caseiro por suposta suspeita de lavagem de dinheiro, mas não se tem notícia de investigação parecida sobre "os mensaleiros", embora alguns até tenham confessado o crime do caixa dois ("coisa de bandido", segundo o ministro da Justiça).
Aliás, o caseiro teve o azar de cair na magérrima cota de 0,5% das investigações efetivamente feitas sobre as 85 mil comunicações de supostas irregularidades nesse campo.
Ou seja, "para os amigos tudo, para os inimigos todo o rigor da lei, quando possível", frase que se atribui a Benedito Valladares (1892/1973), condestável da República Velha.
Na republiqueta lulo-petista, "coisa de bandido", como o caixa dois, vira apenas "erro dos companheiros". Mentira, em depoimento à CPI, vira, na novilíngua da republiqueta, "imprecisão terminológica". Crime de violação do sigilo bancário vira "divulgação indevida".
Maquiam cotidianamente a podridão com o caixa dois do idioma.
Eu, que achava que a corrupção e a desfaçatez do governo Collor seriam imbatíveis para todo o sempre, começo a desconfiar que estava completamente equivocado.
Não sei, ninguém sabe, se a corrupção é maior agora, com Collor ou no governo Fernando Henrique. Ninguém investiga a sério, a não ser caseiros. Mas não me lembro de nenhum "collorido" ter bancado Carmen Miranda de republiqueta no plenário, como fez Ângela Guadagnin, obviamente do PT.

@ - crossi@uol.com.br


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