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ANTÔNIO GOIS
Em benefício próprio
RIO DE JANEIRO - Impressiona a capacidade humana de criar argumentos em benefício próprio. E de acreditar neles.
Nesta semana, juízes de Minas Gerais fizeram uma greve para protestar contra a resolução do Conselho
Nacional de Justiça que limitava os
salários no Judiciário. Ao explicarem
os motivos, eles pareciam realmente
indignados com o que chamaram de
extrapolação da função do conselho.
Outros juízes já haviam usado o mesmo argumento para protestar contra
a resolução antinepotismo feita pelo
mesmo órgão.
O mesmo tom de indignação apareceu nas declarações do general
Francisco Albuquerque quando foi
cobrado a explicar os motivos de ter
exigido embarcar numa aeronave civil que já se preparava para decolar.
A justificativa dada foi um protesto
contra o overbooking da companhia
aérea. Para a Comissão de Ética Pública, no entanto, foi mesmo um caso
de "tratamento privilegiado".
Outro dia, um taxista no Rio puxou
conversa demonstrando revolta com
a decisão da prefeitura de exigir que
os táxis cobrem dos turistas que sobem ao Corcovado apenas o valor da
tabela. Se o trem que leva ao Cristo,
dizia ele, cobrava R$ 30 de cada turista, por que o taxi não podia cobrar
R$ 25 de cada passageiro?
No ano passado, na Urca, pacato
bairro do Rio, moradores protestaram veementemente no jornal do
bairro contra a instalação de um radar que limita em 40 km/h a velocidade em frente a um ponto de travessia de cegos. Para eles, no entanto, o
objetivo era apenas tirar dinheiro dos
motoristas.
Todos esses casos podem ser sintomas daquilo que o economista
Eduardo Giannetti chamou em um
de seus livros de auto-engano. O problema é que, em alguns casos, a linha
que separa o auto-engano da falta de
ética é tênue, muito tênue.
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